sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

2004 - Junio Barreto


A família Daher, que tenho felicidade de fazer parte, desde que me entendo por gente, tem uma espécie de tribuna sagrada onde somos todos iguais. Mais do que isso, gostamos de lá estar, reunirmo-nos e ouvirmo-nos. Esse templo nada secreto fica em Conceição da Barra e a melhor época para encontrar Dahers em massa é janeiro.
Lá, tive a felicidade de conhecer este álbum do Junio Barreto. Lembro do meu primo Thiago, que na época estava com mania de ouvir um monte de som esquisito, chegar sugerindo que eu postasse este disco no blog. Para mim, a primeira audição beirou o desastre. Achei a voz do artista por demais grave e que as letras beiravam o nonsense.
Sem sentido foi a impressão inicial. Quanto mais ouvia as canções, mais envolvido ficava. O que não falta é motivo pra curtir: melodias combinando piano e batuque, eletrônico e acústico e outras vezes passeiam entre regional e global. Letras cheias de lirismo e mensagens de afeto, amor e fraternidade são outro ponto alto deste trabalho.
Já na faixa de abertura, "Qualé Mago?", Junio me arremessa para Itaúnas (vila da estimada Conceição da Barra) e logo estou por lá a andar descalço, rodeado de amigos bons, para então chegar em casa, onde mesa farta nos aguarda; "Se vê que vai cair deita de vez" é canção com sabedoria que mora na simplicidade; "Oiê" consegue amaciar dureza de uma vida de privações e colorir árido cenário com flores, crianças e sereno riso.

01 - Qualé Mago?
02 - Se Vê Que Vai Cair Deita De Vez
03 - Amigos Bons
04 - Aclimação
05 - Oiê
06 - Santana
07 - Passeio
08 - Do Caipora ao Mar
09 - A Mesma Rosa Amarela
10 - Se Vê Que Vai Cair Deita De Vez (Remix)

BAIXE AQUI "JUNIO BARRETO"!!!
(link do UmQueTenha)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mozart - Por Norbet Elias

Dentre os livros escritos por Norbert Elias, sociólogo que tentou elucidar questões referentes à relação entre indivíduos e sociedades, existe uma biografia intitulada "Morzart Sociologia de um Gênio" em que o autor, para narrar a trajetória do compositor, traça as características da sociedade em que este vivia assim como peculiaridades do Mozart indivíduo. Elias tenta quebrar com algumas visões um tanto paradigmáticas acerca de Wolfgang Amadeus Mozart.
Transcrevo aqui um pequeno trecho da biografia e também deixo video com a primeira parte da ópera Don Giovanni.

"Mozart era um homem simples, sem nada de particularmente impressionante para quem o visse na rua, muitas vezes infantil e, nas conversas particulares, estava longe de poupar metáforas relativas a escrementos. Desde a mais tenra idade, sentiu grande necessidade de amor, o que, nos curtos anos de sua maturidade, se manifestou tanto num anseio físico como no constante desejo pelo afeto de sua mulher e de seu público. A questão é como alguém provido de todas as necessidades animais de um ser humano comum podia produzir uma música que parecia, aos que a ouviam, desprovida de qualquer natureza animal. Esta música é caracterizada por termos como 'profunda', 'sensível', 'sublime' ou 'misteriosa' - parece fazer parte de um mundo diferente daquele da experiência comum, no qual a mera reunião de aspectos menos sublimes dos seres humanos tem um efeito degradante."

Norbert Elias em "Mozart Sociologia de um Gênio"

sábado, 19 de novembro de 2011

1976 - Steve Miller Band - Fly Like an Eagle


Não sei o ano que o filme "Space Jam" foi lançado, mas lembro as impressões que tive assistindo ao filme em 1997. Além da diversão de ver astros da NBA como Michael Jordan e Charles Barkley interagindo com Pernalonga, Patolino e companhia limitada, a trilha sonora tinha "Fly Like an Eagle" em versão do Seal. A música, que era o hit do filme, não saiu da minha cabeça. Fui atrás do som e descobri que tinha sido lançado no disco que hoje posto.
Em 97 não achei tanta graça neste disco e curtia apenas a faixa título, mas também não gostava de Beatles, Stones e Led Zeppelin não passava de um monte de cabeludo fazendo barulhos completamente nonsense. Felizmente o tempo passou e minha percepção sobre o rock mudou. Esta semana tive a sorte de encontrar este LP à venda, fui escultá-lo novamente e impressionei-me com o óbvio: a experiência da audição muda ao longo do tempo!
O rock que Steve Miler faz é diferente daquele do final dos anos 60. Aqui ele une licergia e diferentes tradições musicais. Rock'n'roll, soul e blues misturados em doses diferenciadas em cada faixa dão interessante tom ao disco. Serenade é uma balada de rock com simples riff e conta com envolventes vocais de fundo, Dance Dance Dance tem pegada country e Steve Miler parece cantar com certo "sotaque caipira", Mercury Blues é regravação de famoso blues que bem nos situa pelas higways americanas, The Window tem interessante intro cheia de contornos sombrios e a letra assume certo tom existencial.
Além de fazer os vocais, Steve Miller toca guitarra, cítara e piano elétrico. Completam a banda Gary Mallaber na bateria e percussão e Lonnie Turner no baixo. Você pode até não gostar do disco, mas aqui está um trabalho bem feito que tem interessante voo sonoro. Vide as variações entre Serenade, Fly Like an Eagle, Take the Money and Run e Mercury Blues, que têm diferentes bases e não perdem unidade melódica.

01 - Space Intro.
02 - Fly Like An Eagle
03 - Wild Mountain Honey
04 - Serenade
05 - Dance, Dance, Dance
06 - Mercury Blues
07 - Take The Money And Run
08 - Rock'n Me
09 - You Send Me
10 - Blue Odyssey
11 - Sweet Maree
12 - The Window

BAIXE AQUI "FLY LIKE AN EAGLE"!!! (Rapidshare)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

2011 - Criolo - Nó Na Orelha


Em junho deste ano, enquanto fazia uma visita a Sampa, uma amiga comentou sobre um tal de "Criolo", que em julho faria shows de lançamento do disco "Nó Na Orelha" lá no Studio SP e que por coincidência, seriam em datas que também estaria na terra da garoa. Imaginei ser boa idéia ir ao evento, no mínimo estaria numa casa de shows bacana em noite de gala. Por vacilo meu, esqueci do ingresso e perdi a noitada. Opiniões um tanto suspeitas (explico: pessoas que já eram fans de tempo do cara) davam conta de que a noite havia sido linda e que o trabalho prometia dar um bombada.
O tempo passou, novas coisas vieram ocupar minha cabeça e esqueci do disco. Dia desses, um pouco de saco cheio com todas essas coisas e também como forma de presentear meu aniversário, tirei o fim de tarde para ouvir novos sons. Comecei com "Nó Na Orelha" e aqui fiquei!
"Bogotá", faixa de abertura tem intro com guitarras e metais naquela pegada funky um tanto venenosa. O disco, que logo de cara chamou minha atenção, mantém-se firme com músicas que variam entre momentos reflexivos e outros mais animados. As fortes letras, cheias de visão crítica, abordam temas como violência, amor (ou falta de), o cotidiano da vida na cidade, contexto social etc.
Outro ponto que merece destaque é a estratégia de vender CD e vinil (que cá entre nós, proporciona uma experiência de audição infinitamente mais agradável, mas isso é assunto para outra hora!) e colocar o mp3 com downloads gratuitos.
Para completar, num trabalho tão cuidadoso como este, não poderiam faltar adequadíssimas instrumentações que ajudam a colorir as melodias e ritmos que passam por reggae, samba, hip-hop, funk e rap.

01 - Bogotá
02 - Subirusdoistiozin
03 - Não Existe Amor em SP
04 - Mariô
05 - Freguês da Meia Noite
06 - Grajauex
07 - Samba Sambei
08 - Sucrilhos
09 - Lion Man
10 - Linha de Frente

BAIXE AQUI "NÓ NA ORELHA"!!! (SITE DO CRIOLO!)

domingo, 9 de outubro de 2011

Duas ou três coisas que lembro de 1985

Dia desses, cruzava a ponte Rio-Niterói com pensamento fechado em certo projeto que preciso escrever e bastante angustiado com tantas coisas que faltam. Era época de Rock'n'Rio e certa declaração polêmica da Cláudia Leite (cá entre nós, a atitude mais roqueira desta edição do evento) era assunto abordado pelo radialista. Em meio à atmosfera da festa, deixei-me levar pela memória e fui passear pelas coisas que associo à primeira edição desta ode ao rock.
As lembranças começaram com um pequeno garoto que, de férias numa cidade de praia, já preferia trocar os dias pela noite para assistir a todos aqueles espetáculos que sequer entendia direito. Não esqueço o forte desejo que aflorava em conhecer o Rio de Janeiro, cidade do Cristo, Flamengo e Vasco, Zico, Bebeto, Roberto Dinamite e Romário. Lembrei de dois outros ídolos, Ayrton Senna e Nelson Piquet. A primeira música que me veio à cabeça e que, diretamente relaciono ao imaginário da festa, foi "Bete Balanço". Para minha surpresa, a música foi lançada naquele show.
O ano era 1985 e muitas coisas ainda aconteceriam: a primeira vitória de Ayrton Senna em um Grande Prêmio de Fórmula 1, uma goleada que o Vasco meteu no Flamengo (sem Zico, que estava na Udinese) e o primeiro dente que deixei cair na árvore do quintal do meu avô, lá em Cachoeiro de Itapemirim.
Em meio a essas lembranças, por alguns instantes esqueci infame projeto e deixei aquele menino contemplar a Baía de Guanabara e as luzes do Redentor.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

1980 - Vinicius de Moraes - Testamento


Difícil resumir em palavras esta jornada que hoje completa cinco anos. Por incontáveis vezes perguntei-me sobre o propósito deste espaço. Seria aqui lugar para indiretamente revelar meu humor, minhas paixões, meus medos, meus sonhos? Estaria aqui para compartilhar músicas que me tocam? Ou então é alguma forma de auxiliar minha combalida memória? Admito que continuo incapaz de responder tais questões.
Olhar para trás e pensar no caminho percorrido nestes marcantes 5 anos sem emocionar-me é impossível. Lembro da primeira postagem, das primeiras revelações (um tanto inseguras) aos amigos sobre essa história de ter blog, da primeira declaração de amor, dos momentos de silêncio, desabafos, piadas, textos de amigos, interações com leitores, artistas e tantas outras experiências que não passaram (nem passarão) em branco.
Para comemorar a data, deixo este "Testamento" de incalculável valor que o querido poetinha Vinicius de Moraes presenteou-nos em 1980. O disco conta com participações de Toquinho, Marilia Medalha, Maria Creuza e Maria Bethânia e é cheio das mais lindas frases tais como "quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não". Andava meio em falta com o "branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô", mas neste frio final de semana, Vininha veio aquecer meu coração ao recitar versos dentro de "Eu sei que vou te amar" e também machucá-lo um pouco ao relembrar-me das inúmeras despedidas com "Mais um adeus".
Obrigado a todos que de alguma forma fazem parte desta fantástica experiência!

01 - Como Dizia O Poeta [Vinicius, Toquinho e Maria Medalha]
02 - Mais Um Adeus [Toquinho e Maria Medalha]
03 - Tarde Em Itapoan [Vinicius, Toquinho e Maria Medalha]
04 - O Velho E A Flor [Vinicius e Toquinho]
05 - Eu Sei Qu Vou Te Amar [Vinicius e Maria Creuza]
06 - Testamento [Vinicius e Toquinho]
07 - São Demais Os Perigos Dessa Vida [Vinicius e Toquinho]
08 - Apelo [Vinicius, Toquinho e Maria Bethania]
09 - Garota De Ipanema [Vinicius e Toquinho]
10 - Marcha De 4a Feira De Cinzas [Vinicius e Toquinho]
11 - Tomara [Vinicius e Maria Medalha]
12 - Canto De Ossanha [Maria Creuza, Vinicius e Toquinho]


PS: ando um tanto ausente, portanto não sei se ainda hoje conseguirei responder a todos os comentários que pintaram por aqui durante este período

sábado, 6 de agosto de 2011

Novos Rumos

Paulinho da Viola e sua sensitiva sabedoria.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

1976 - Edu Lobo - Limite das Águas


Hoje reposto o disco "Limite das Águas" com texto do grande amigo e consultor para assuntos transcendentais Carlos Jr. Desde nossa adolescência o cara curtia Edu Lobo e um dia conseguiu convencer-me que o cara é sensacional. Acontece que ele leu meu texto sobre este disco e teve ponto de vista diferente do meu. Nada mais justo do dar a voz ao cara.

"Este disco foi criado pelo Edu depois que ele voltou de um período em Los Angeles estudando arranjo e orquestração. Mas ao contrário do que poderia se esperar, é um disco essencialmente centrado na força da canção. Por outro lado, é clara a influência que a temporada no exterior exerceu sobre seu processo criativo. É como se agora Edu fosse capaz de pensar a canção sem estar preso ao instrumento (seja o violão ou o piano – no caso dele, mais o violão), ou pelo menos, como se tivesse adquirido uma habilidade maior para desconstruir a própria idéia original a partir de um leque mais rico de possibilidades musicais, tal como o diretor de cinema que lê o roteiro original e imagina mil situações para transformá-lo em filme.
Em suma, é como se Edu tomasse consciência de que uma canção é mais um roteiro do que uma música, e que o resultado final pode ser infinitamente mais rico do que a mera sobreposição da seção rítmica e melódica à idéia musical original. Talvez neste disco Edu esteja fazendo música como quem faz cinema...
As letras tentam romper de vez com a herança bossa-novista de seu parceiro e referência de início de carreira, Vinícius de Morais. Com exceção talvez de duas faixas, “Considerando” e “Toada”, as letras tentam exprimir uma subjetividade menos linear, mais fragmentada, como que tentando transmitir a intensidade das impressões, mais do que sua síntese numa “moral sentimental da história”. Outras vezes, elas seguem o caminho oposto e assumem a figura de um narrador externo, mas ainda preferindo o relato fragmentado e “impressionado” dos fatos, jogando de forma (propositalmente) confusa com eles, como se a intenção fosse mais construir uma certa “textura simbólica”, do que contar uma história propriamente.
Enfim, este me parece um disco onde Edu se sente maduro o suficiente para permitir se perder, arriscar novos caminhos musicais, sem com isso abrir mão da unidade estética, ou perder o leme do processo criativo. Como se ele tivesse a confiança de que, ao final, ele se encontraria novamente, mas agora num novo patamar artístico."
Carlos Dalla Bernardina Junior

01 - Uma vez um caso (part. Joyce)
02 - Negro, negro
03 - Considerando
04 - Toada
05 - Gingado dobrado (nordestino)
06 - Limite das águas
07 - Cinco criancas
08 - Segue o coração
09 - Repente

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

1969 - Maria Bethânia


Em 1969 Maria Bethânia ainda era artista em início de carreira, com apenas 23 anos ela exibia algumas virtudes que ainda hoje marcam seu trabalho. Dentre elas listo o cuidado na preparação do disco, passando pela escolha de banda, arranjos e interpretações com grande carga emocional.
Logo na primeira faixa ela demonstra capacidade de suingar e intensamente solta os pulmões sem perder gingado. Em seguida, com densidade fala do triste momento da separação em "Pra Dizer Adeus". Já "Ponto do Guerreiro Branco" é música de domínio popular (outrora chamada de canção folclórica) em que ela convida-nos para uma roda de capoeira.
O álbum segue a variar ritmos e momentos de tristeza com outros animados. Bethânia acertou tanto no repertório (canta músicas de Dorival Caymmi, Edu Lobo, Capinan, Tom Jobim etc) como nas interpretações, ficando difícil destacar músicas, mas gosto muito do balanço cheio de metais e certa pegada jazzística em "Dois de Fevereiro", assim como da empolgação que ela explicita ao desejar sempre estar ao lado de seu amado em "Andança".

01 - Yê-Melê
02 - Pra Dizer Adeus
03 - Ponto do Guerreiro Branco
04 - Preconceito
05 - Dois de Fevereiro
06 - O Tempo e o Rio
07 - Frevo nº 2 do Recife
08 - Duas Contas
09 - Andança
10 - Onde Andarás
11 - Agora É Cinza - A Fonte Secou - Eu Agora Sou Feliz - O Nosso Amor - Cidade Maravilhosa

terça-feira, 2 de agosto de 2011

2007 - Vitor Ramil + Marcos Suzano - Satolep Sambatown


Satolep Sambatown é a fusão de dois universos particulares. Marcos Suzano, percussionista que além da carreira solo já tocou com artistas como Gilberto Gil, é carioca e tem formação fortemente ligada à tradição sambista do Rio de Janeiro. Dele vem a referência "Sambatown", enquanto "Satolep" é anagrama da cidade natal de Ramil: Pelotas. Vitor define-se como narrador de uma "estética do frio" e para isso lança mão de harmonias abertas, arpejos em cordas de aço e letras banhadas em densa poesia.
O disco já começa com uma ferida exposta. Livro Aberto deixa claro sentimento de falta que vive dentro do poeta que lança mão de frases como "essa cama imensa que não vai passar", sugerindo forte ausência dentro de seu eu. Marcos Suzano acrescenta gravidade e desespero com ricos elementos percussivos, destaque para a cuíca e o vento que sopra ao final da faixa. Em seguida, o vento continua a uivar solidão em "Invento". O caminho segue com músicas a contar viagens, ilusões, aridez, seca, paixões, sonhos, desespero e desejo de encontrar seu lugar.
Além de intenso conteúdo poético, outro ponto alto do trabalho está nos ricos arranjos feitos e no cuidado e beleza que Marcos Suzano imprime nas percussões. Batuques, assobios, cuícas, pandeiros, baterias e inúmeros outros elementos embutem charme e categoria ao disco.

01 - Livro Aberto
02 - Invento
03 - Viajei
04 - Que Horas Não São (part. Kátia B)
05 - O Copo e a Tempestade
06 - A Zero Por Hora (part. Jorge Drexler)
07 - 12 Segundos de Oscuridad
08 - A Ilusão da Casa
09 - Café da Manhã
10 - A Word is Dead
11 - Astronauta Lírico

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

2011 - Luísa Sobral - The Cherry On My Cake


Luísa Sobral é conhecida do público português há algum tempo. Aos 17 anos chegou à final da versão lusitana do programa ídolos. Agora, aos 23 anos, lança seu primeiro disco em que mistura solidez musical com alegria da juventude. Como bem sugere a capa do CD, este é um trabalho quase primaveril. Luísa colore as faixas com letras cheias de sonhos bons, solos de guitarra, banjos, assobios, harpas, pianos, metais, baterias e outros instrumentos com referências jazzísticas. Ela diz que gosta de Chet Baker, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e outros mestres do estilo.
A cantora residiu em Boston por quatro anos, período em que estudou no Berklee College of Music e iniciou a compor canções que estão neste disco. Alcançou reconhecimento da crítica americana e foi indicada a melhor artista de jazz e melhor música de jazz em prêmios musicais na terra do Tio Sam, tais como o Malibu Music Awards e International Songwirting Competition.
Sua voz mistura doçura com firmeza e o som lembra-me artistas como os brasileiros Tiê e Thiago Pethit e também a americana Norah Jones. As músicas têm pegada alegre e apaixonada e convidam-nos a flutuar por leve universo musical. Por morar há muito tempo nos EUA, a maior parte de suas canções é composta em inglês, apenas três faixas são cantadas em português.

01 - I Would Love To
02 - Not There Yet
03 - Clementine
04 - O Engraxador
05 - Don't Let Me Down
06 - You Won't Take Long
07 - Mr. & Mrs. Brown
08 - Xico
09 - After All
10 - Why Should I?
11 - Saiu Para A Rua
12 - Déja Vu
13 - Oversize

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crônica de Uma Morte Anunciada (Jah Salvaria?)

Ainda tenho fresco na memória o dia em que li o primeiro texto falando sobre Amy Winehouse. Segundo o colunista do saudoso blog NoMínimo, a branquela cantava com potência, intensidade e autenticidade comparáveis a de saudosas divas da música negra americana como Aretha Franklin, Billie Holiday e Ella Fitzgerald. O ano era 2006 e encontrar determinados discos na internet ainda levava certo tempo. Enquanto não conseguia baixar o disco (alguns meses de procura), sempre pintava novo texto cheio de elogios à tal Winehouse.
A espera por Back to Black envolvia um misto de ceticismo, curiosidade e torcida para que Amy fizesse por merecer inúmeras críticas positivas. A primeira audição foi impactante e repeat no iPod foi a tônica do primeiro semestre de 2007. Nessa época, pela primeira vez ouvi certa frase: "Vitor, as vezes você me assusta. Coloca uma coisa na cabeça e não tira!". Ouvir aquele disco era uma constante e a cada momento algo novo chamava minha atenção. Dentro das inúmeras belezas do disco, destaco três pontos: a bateria com pegada de marcha militar e a firmeza com que ela apoiaria seu homem numa guerra pagã (Some Unholy War), deixa no ar rara paixão; o duro (e belo) suingue com tom taciturno típico do lamento da música negra da faixa Back to Black; o tão falado conteúdo autobiográfico em que ela expõe fragilidades, vícios, fraquezas, amores, desilusões etc.
Revirando meu blog, encontrei breve texto descontraído (do final de 2007) em que eu desejava que Amy ao menos gravasse mais alguns discos antes da morte anunciada. Ano passado, durante sua temporada no Caribe, torci profundamente que Jah, o reggae e toda aquela vibração positiva envolta em luz verde salvassem a vida desta inesquecível cantora. Quando ouço o interessante ska Hey Little Rich Girl, vejo que ela realmente tinha alma negra e prova sua capacidade de transitar bem por diferentes estilos. Fico sonhando com Amy gordinha, tranqüila, livre das drogas pesadas e cheia de dreadlocks, num disco que ela não gravou, mas que seria jóia rara: Amy Winehouse meets Reggae Music.
Amy, porque você não caiu no reggae?
Rest In Peace

quinta-feira, 28 de julho de 2011

2010 - Sharon Jones & The Dap-Kings - I Learned The Hard Way


Sharon Jones é a rainha da soul music contemporânea. O poder de suas interpretações e extensão vocal provam que ainda existem estrelas vivas neste gênero. Fica claro que a cantora bebe na fonte da soul music dos anos 60 e 70 e tem trajetória similar à de grandes nomes da soul music. Iniciou sua carreira em corais de igrejas (berço de inúmeros artistas da black music), cresceu ouvindo nomes como James Brown e Ottis Redding e colaborou em alguns álbuns como backing vocal, mas nunca conseguiu gravar um disco próprio. Sendo assim, buscou sustendo de outra forma: foi carcereira e segurança de carro forte.
Em 1996 Sharon reencontrou-se com a música quando a banda de seu ex-marido precisava de backing vocal e ela prontificou-se imediatamente para o posto. A banda era Soul Providers, que depois virou The Dap-Kings. Anos depois, impressionados com a pegada funky, Amy Winehouse e Mark Ronson (produtor de Winehouse) foram a Nova Iorque para contratá-los para participar do álbum que Amy gravaria e acrescentar suingue e veneno. O álbum que surgiu desse encontro foi Back to Black.
Em junho deste ano Sharon esteve no Brasil e tive a felicidade de assistir ao melhor show do ano. A produção do evento foi impecável, som perfeitamente limpo, sem a menor distorção, deixando ecoar o timbre de cada instrumento com maior clareza possível. A banda The Dap-Kings iniciou o espetáculo e deu aula de irreverência, categoria e interação com o público. Quando Jones entrou no palco foi pura festa com momentos de soul music da melhor qualidade.

01 - The game gets old
02 - I learned the hard way
03 - Better things to do
04 - Give it back
05 - Money
06 - The reason
07 - Window Shopping
08 - She ain't a child no more
09 - I'll still be true
10 - Without a heart
11 - If you call
12 - Mama don't like my man

quarta-feira, 27 de julho de 2011

2008 - Dani Gurgel - Nosso


Semana passada, durante breve temporada em Sampa, tive a sorte de assistir ao show de Dani Gurgel. Confesso que não conhecia o trabalho da cantora. Logo de cara chamou-me atenção a formação da banda: voz, teclado e contra-baixo acústico.
A suave e firme voz de Dani somada a interessantes composições que narram fatos do cotidiano, por diversas vezes remeteram a momentos de minha vida e rapidamente cativaram-me.
O disco "Nosso" tem forte orientação jazzística norteado pela música popular brasileira e conta com 11 canções de 15 compositores (a maioria jovens paulistanos com pouco mais de 20 anos). Destaque para "Neneca", doce homenagem aos domingos em família na casa da avó, sempre acompanhados por almoço, tios e criançada reunidos, estripulias infantis, pudim aos montes, torcida por mais uma vitória do Ayrton Senna e deleite da Neneca, que também poderia chamar-se Odete.
Dani Gurgel, além de cantora e compositora, é fotógrafa e empreendedora. Ela tem um projeto chamado Música de Graça (vale conferida) em que músicos de diferentes vertentes da nova geração disponibilizam versões inéditas para download gratuito. Sugiro também visita ao site da cantora para baixar outras músicas por este link, basta cadastrar o email.

01 - Festa de santo
02 - Essa não...
03 - Samba do jazz
04 - Da pá virada
05 - Sem morada
06 - Laço na lua
07 - Três tristes trópicos
08 - Neneca
09 - Santuário do Pau de Aroeira
10 - Tambor guia
11 - Dá licença

2000 - Frank Jorge - Carteira Nacional de Apaixonado


Carteira Nacional de Apaixonado é o disco de estréia da carreira solo de Frank Jorge. Antes disso, ele foi baixista e guitarrista da banda gaúcha Graforréia Xilarmônica e também integrou os grupos Os Cascavelletes e Cowboys Espirituais. Neste álbum, Jorge envereda-se pela produção independente e faz um rock'n'roll suingado e irreverente. As letras são por diversas vezes irônicas, sarcásticas e um tanto piadísticas ("Serei Mais Feliz (Vou Largar a Jovem Guarda)" ilustra bem isso). Em outros momentos, como bem sugere o disco, surgem versos com tons mais luminosos e apaixonados, como em Sensores Unilaterais e Esperando a Saudade.
Já na instrumentação, Frank abusa de tecladinhos, sintetizadores e guitarras que dão tom de rock retrô que flerta com o brega. Essa ausência de "compromisso" com fórmulas pré-estabelecidas sobre como tocar e arranjar músicas de rock embute charme e diferencia o trabalho de Jorge.

01 - Gi.B.I.
02 - Serei Mais Feliz (Vou Largar A Jovem Guarda)
03 - Sensores Unilaterais
04 - Esperando A Saudade
05 - Nunca Diga
06 - Prendedor
07 - Bela
08 - Cabelos Cor de Jambo
09 - Não Recebo Em Dólar
10 - Homem de Neanderthal
11 - Saudade de Você
12 - Tá Na Boa
13 - Bounce

terça-feira, 26 de julho de 2011

1992 - Hermeto Paschoal - Festa dos Deuses


Hoje faço uma confissão aos estimados leitores: já cometi a falta de juízo de falar mal do trabalho de Hermeto Paschoal. Não sei explicar de onde vinha tanta implicância com tão pouco fundamento. Falado isso, foquemos no disco.
Festa dos Deuses, como bem sugere o título, é disco com melodias animadas e festivas que também conta com ricos arranjos em que entram vocais, sax, flauta, baixo, piano, bateria, percussão, cantos de pássaros etc. Grandes músicos como Itiberê Zwarg (baixo) e Carlos Malta (sax e flauta) acrescentam brilhantismo ao trabalho.
Destaque para as belas e cuidadosas texturas musicais que Hermeto cerze ao longo do álbum. O cara brinca com elementos percussivos com tal maestria que por vezes os instrumentos fazem-nos escutar água cair, em outras, discursos transformam-se em melodias (e vice-versa) e reverberam-se assim talento e genialidade de Paschoal.

01 - O galo do Airan
02 - Rainha da pedra azul
03 - Viajando pelo Brasil
04 - O farol que nos guia
05 - Pensamento positivo
06 - Peneirando água
07 - Canção no paiol em Curitiba
08 - Aula de natação
09 - Três coisas
10 - Irmãos latinos
11 - Depois do baile
12 - Quando as aves se encontram, nasce o som

sexta-feira, 15 de julho de 2011

1989 - Caetano Veloso - Sem Lenço, Sem Documento


Não sou muito fã de coletâneas, mas gosto desta pelo fato de ser um belo passeio pela carreira do Caetano e também por ter sido através deste disco que comecei a conhecer poesia e música deste que é um dos mais belos compositores da música popular brasileira.

01 - Alegria, Alegria
02 - Soy Loco Por Ti, América
03 - Tropicália
04 - Superbacana
05 - Atrás Do Trio Elétrico
06 - Lua de São Jorge
07 - Shy Moon
08 - Queixa
09 - Sampa
10 - Podres Poderes
11 - Você é Linda
12 - O Leãozinho
13 - Odara
14 - Qualquer Coisa
15 - Eclipse Oculto
16 - Trilhos Urbanos
17 - Trem das Cores
18 - Outras Palavras
19 - Beleza Pura

quarta-feira, 13 de julho de 2011

2009 - Devendra Banhart - What Will We Be


Hoje é o dia em que convencionou-se como aniversário do rock'n'roll. Muitos perguntam por onde anda e para onde ele vai, alguns acham que ele acabou, mas não sei, acho que está apenas adaptando-se aos novos tempos.
Para comemorar a data, posto um dos discos que mais gosto de ouvir deste que é um legítimo representante do novo movimento dentro do rock. O Devendra normalmente grava discos cheio de referências e transita por diferentes linhas do rock. Aqui a música não é marcada pelos fortes riffs de guitarra nem por melódicas linhas de baixo. O cara mescla rock com outros estilos como jazz, blues, pop, ritmos latinos e indianos.
O que não falta é motivo para eu gostar deste disco, posso citar a beleza das instrumentações, o fato de ele ser extremamente ensolarado e recheado de baladinhas românticas, animadas e/ou carinhosas como "Baby" (dá vontade de ter uma namorada e ficar o tempo inteiro junto!), "Brindo" (bela celebração ao amor), "Angelika" e "Can't Help But Smailing". Os outros discos do Devendra que conheço têm pegada mais psicodélica ou melancólica, então aqui eles provam que são capazes de fazer trabalhos com diferentes estilos sem ficar presos a fórmulas pré-estabelecidas, coisa rara atualmente. Outro ponto que me agrada é o título. Acho que ele acertou em cheio para a proposta de um disco de tom mais romântico, pois a pergunta é simples e profunda: "o que será de nós?" (em tradução livre).

01 - Can't Help But Smiling
02 - Angelika
03 - Baby
04 - Goin' Back To The Place
05 - First Song For B
06 - Last Song For B
07 - Chin Chin & Muck Muck
08 - 16th & Valencia, Roxy Music
09 - Rats
10 - Maria Leonza
11 - Brindo
12 - Meet Me At The Lookout
13 - Wiliamdzi
14 - Foolin'


PS: Continuo tendo dificuldades com o MegaUpload, por isso hoje aproveitei um bom link que encontrei na internet

sexta-feira, 8 de julho de 2011

1984 - Zizi Possi - Dê Um Rolê


Dia desses estava a passear por blogs de música e encontrei este disco que para mim é repleto de recordações (acho que este era um dos preferidos de minha mãe, impossível olhar pra esta capa e não pensar em tempo não tão distante - ao menos de minha memória afetiva - de música alta e casa cheia). A curiosidade em ouvir álbum que embalou minha infância e descobertas musicais foi imensa e imediatamente fui baixá-lo.
A faixa de abertura já entrou como furacão e misturou lembranças, impressões e invenções do que sou, gosto e admiro. "Dê Um Rolê" é das músicas dos Novos Baianos mais marcantes para mim, a forma torta, rasgada e autêntica de exprimir maneira particular de amar é para mim quase autobiográfica. Em meio a toda textura pop oitentista ainda há resquícios do rock'n'roll desesperado dos anos setenta em algumas canções. Arrisco dizer que o excesso de teclados (as vezes um tanto cafonas no meio do LP) nos arranjos do disco talvez seja responsável por meu inexplicável encanto com teclados, pianos, pianos holz e afins. Fato que muitas palavras e melodias ficaram registradas em nosso inconsciente e aqui não seria diferente.
Destaque para a interpretação intensa, autêntica, sedutora e firme em "Lábios", que considero o ponto alto deste trabalho. Teria isso a ver com o momento que ela vivia?
Para quem quiser ler um texto que explica (bem) melhor o disco e seu contexto, recomendo este texto do Sidney Rezende.

01 - Dê Um Rolê
02 - Lábios
03 - Depois Me Diz
04 - Papel Marché
05 - Pássaro Sem Ninho
06 - Cigana Nuvem
07 - Febril
08 - Luiza
09 - Nobreza
10 - Brilho Louco

1965 - Conjunto a Voz do Morro - Roda de Samba


O "Conjunto a Voz do Morro" foi uma idéia do Zé Ketti para juntar amigos sambistas que ainda não tinham gravado seus sambas de maneira profissional. Esse projeto quase independente contou com participação de notáveis sambistas, dentre eles estão Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Zé Ketti e Nelson Sargento. Este disco conta também com Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescar do Salgueiro.
Vale uma conferida neste interessante álbum que conta com os primeiros registros de algumas canções que viraram obrigatórias em qualquer roda de samba de qualidade!

01 - Peço Licença
02 - Intriga
03 - Mascarada
04 - Coração Vulgar
05 - Conversa de Malandro
06 - Pecadora
07 - Vai Saudade
08 - Jurar com Lágrimas
09 - Maria
10 - Coração de Ouro
11 - Não Sou Feliz
12 - Injúria
13 - Sonho Triste
14 - Meu Viver


PS: pessoal, a ausência não foi proposital, estava enfrentando problemas técnicos!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

2003 - Los Hermanos - Ventura


Dia desses, uma amiga falou-me sobre disco que ouviu muito em determinada fase da vida e que apesar de gostar, achava que não seria capaz de escutá-lo novamente. Comentei que talvez, no futuro, uma ou duas faixas voltassem a fazer total sentido. Não sei se por força dessa conversa ou das circunstâncias, reencontrei-me com Ventura, primeiro álbum dos Los Hermanos a conquistar-me (e de maneira avassaladora, confesso). Lembro de ficar encantado com a mescla de rock com arranjos bem elaborados contando com metais, teclados, sintetizadores e cadências não tão óbvias.
Engraçado voltar a ouvir certas coisas seis anos depois. Algumas implicâncias continuam, ainda não consigo digerir "Cara Estranho", por exemplo. Por outro lado, devo ressaltar o lirismo do olhar de Camelo. Algumas letras tiveram fonte de inspiração em notícias de jornal (Conversa de Botas Batidas), televisão (O Vencedor) e outros discos. Se antes, o que mais chamava-me atenção era a forma quase ingênua, autêntica e cheia de suingue das canções do Amarante (coisa linda é a paixão na terceira idade narrada na faixa "Último Romance"), hoje o que me toca é a doce forma de encarar as durezas da vida e caminhar sonhando com sereno reencontro em que Camelo envolve-nos com "Além do que se vê".

01 - Samba a Dois
02 - O Vencedor
03 - Tá Bom
04 - Último Romance
05 - Do Sétimo Andar
06 - A Outra
07 - Cara Estranho
08 - O Velho e o Moço
09 - Além do que se vê
10 - O pouco que sobrou
11 - Conversa de Botas Batidas
12 - Deixa o Verão
13 - Do Lado de Dentro
14 - Um Par
15 - De Onde Vem a Calma


"é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê"

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ausência


Caros leitores, hoje compartilho um pouco mais dos sábios versos de Drummond.
Não resisti e acrescentei um desenho do Calvin!

Ausência
(Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

1971 - Novos Baianos & Baby Consuelo - No Final do Juízo


Em 1971, "Novos Bahianos" e Baby Consuelo lançaram o single No Final do Juízo. Aqui, a sonoridade das canções é o que mais chama atenção. Os músicos misturam rock'n'roll com psicodelia e regionalismo. "Dê um rolê", faixa de abertura, ilustra muito bem o caso e tem intro feita com sanfona típica do forró nordestino, depois o arranjo cresce e entram guitarras um tanto progressivas que lembram bandas de rock como Pink Floyd, acrescenta-se a isso uma flauta que remete aos sons do Jethro Tull e está aí formada uma música envolvente em cada detalhe. A letra magicamente ilustra sonhos de uma época que passou, mas ainda digo que sou amor da cabeça aos pés, apesar de as vezes duvidar que a vida é boa.
Duas coisas que merecem ser pontuadas são a participação do grupo "A Cor do Som" que acrescenta brilhantismo às músicas e a capa do compacto, que faz alusão a Jesus Cristo e o Juízo Final, mas aqui mora o final do juízo.

01 - Dê Um Role
02 - Você Me Da Um Disco?
03 - Caminho De Pedro
04 - Risque

terça-feira, 21 de junho de 2011

2011 - The Decemberists - The King Is Dead


The King Is Dead é o sexto álbum da banda de folk rock The Decemberists. Neste trabalho, eles optaram por instrumentações mais próximas ao acústico e as melodias são quase ensolaradas, algo que parece ser raro na carreira dos caras. Para gravar este disco, eles refugiaram-se por dois meses e meio numa fazenda em Oregon e os ares do campo parecem soprar em algumas canções.
O título do disco remete a outro famoso álbum, o The Queen Is Dead dos Smiths, mas o cabeça da banda, Colin Meloy, logo explica que a principal referência é outra: R.E.M., e Peter Buck (guitarrista do R.E.M.), faz participação especial em três faixas.
Fica aí sugestão de som para ensolarar dias deste inverno que promete ser o mais frio das últimas temporadas.
Ah, o video que postei ontem, tem como trilha sonora a faixa "Rox In The Box".

01 - Don't Carry It All
02 - Calamity Song
03 - Rise To Me
04 - Rox In The Box
05 - January Hymn
06 - Down By The Water
07 - All Arise!
08 - June Hymn
09 - This Is Why We Fight
10 - Dear Avery

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Volta por aí

Coisa linda...

Carving the Mountains from Juan Rayos on Vimeo.


"Velho, vai por mim. andar de skate lava a alma!"
Abração pra vc, Carlos Jr.!
(e começo a acreditar nessa história do skate...)

Desejo Amor

Vivi nove anos inteiros ontem.
"- Ó vida futura! nós te criaremos"





Carinhosamente, dedico esta postagem a Maria Fernanda, Patrícia e Raquel. Também desejo amor a vocês todas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

2006 - Francis Hime - Arquitetura da Flor


"Arquitetura da Flor" é daqueles discos que começam a envolver por capa e título. Lembro-me de minha adolescência e de incontáveis CDs que comprei por conta de título inusitado ou desenho bem feito. Fato é que muitas vezes, o que parecia interessante, transforma-se em profunda decepção. Felizmente, neste caso, ouvir o disco revela-se experiência ainda mais inquietante. A sugestão de associar flor e planejamento (arquitetura), soou-me confusa e sem cabimento. Como misturar rosas e concreto? Como planejar forma de planta que vai brotar?
Felizmente, Hime vem sugerir algumas intepretações com seus timbres, palavras e versos pra lá de passionais. Neste disco em que assume tom confessional, Francis foca em melodias e hamonias, deixando para trás uma das marcas registradas de seus trabalhos: a grandiosidade orquestral. Nesta contundente confissão, não param de brotar sugestivas palavras como saudade, sofrer, adeus, sonhador, vida, morte, fúria, solidão, chegada, partida etc. Fico com impressão de ouvir um coração descompassado que tenta recompor frustrada história de amor e a partir daí, a idéia de arquitetar uma flor faz sentido, pois seria esse o método adotado por Francis para reescrever amargo passado com leves e envolventes melodias.
Para finalizar, vale destacar os músicos envolvidos no projeto: Ricardo Silveira (guitarra e violão), Jorge Helder (baixo), Kiko Freitas e Téo Lima (bateria), Marcelo Costa (Percussão), Vittor Santos (trombone), Jessé Sadoc (trompete), Marcelo Martins (sax e flauta), Hugo Pilger (violoncelo), Cristiano Alves (clarineta).
Disco para ser ouvido em cada detalhe e calmamente digerido.

01 - A invenção da rosa
02 - Gozos da alma
03 - Sem saudade
04 - Palavras cruzadas
05 - A musa da TV
06 - Desacalanto
07 - Do amor alheio
08 - A dor a mais
09 - Mais-que-imperfeito
10 - Cadê
11 - História de amor
12 - O mar do amor total

terça-feira, 14 de junho de 2011

2011 - Tonho Crocco - O Lado Brilhante da Lua


Hoje, no SESC Pompéia Chopperia (com entrada grátis), Tonho Crocco (ex-vocalista da banda Ultramen) lança seu primeiro disco solo, "O Lado Brilhante da Lua". Mais informações pelo site de Tonho, neste link. O músico explica que a idéia para o título do trabalho surgiu por ele ser fã de "The Dark Side of The Moon", mas ao contrário do referido álbum, aqui a proposta é fazer o oposto. Canções animadas e menos introspectivas são a tônica de "O Lado Brilhante da Lua".
Crocco passeia por alguns ritmos, como afrobeat e samba, mas a base do disco está num soul com elementos pop. Arranjos contam com metais, guitarra, teclado, bateria em pegadas cheias de groove e suingue. Fica nítido o cuidado com detalhes da produção, haja vista a masterização feita no Abbey Road Studio de Londres.
Taí sugestão de programa para quem está em Sampa.

01 - MoMo King Intro
02 - O Lado Brilhante da Lua
03 - Abre Alas (O Carro Destemido)
04 - Teto Solar
05 - Réu Primario
06 - O Conjunto da Obra
07 - Quadratura
08 - Doce Amargo
09 - Samba da Gamboa
10 - Árida Saudade

sexta-feira, 10 de junho de 2011

2006 - Forro In The Dark


Forro In The Dark é banda formada por brasileiros radicados em Nova Iorque. A proposta é fazer releitura do forró com roupagem contemporânea. Não consegui pesquisar maiores detalhes sobre a banda e especificidades do disco em questão (infelizmente, sequer ficha técnica encontrei), mas tenho impressão de que este é o primeiro deles. Aqui os caras ainda estão mais "presos" aos clássicos do forró e não ousam tanto nos arranjos como em discos um pouco mais recentes.
A seleção das músicas para este disco foi acertadíssima e conta com nomes do calibre de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. A faixa de abertura é obrigatória em qualquer forró pé-de-serra de qualidade: "Xote das meninas" (forrozeiras, por gentileza corrijam-me se estiver enganado), é música que agita o salão e todo mundo sabe a letra de cor; "Assum preto" tem aqui versão instrumental em que sanfona faz condução e os outros instrumentos vêm atrás a encher a música de cores; "Sabiá" tem arranjo "minimalista" que por vezes fico confuso e não sei se estou ouvindo jazz, tango ou forró e por aí vamos passeando por pistas de dança mundo afora. Não a toa os caras conquistaram os gringos.
Fica aí boa sugestão de som para você colocar em seu arraiá e dar uma arrojada na festinha (sugiro também um cadin de quentão!).

01 - Xote das meninas
02 - Assum Preto
03 - Vou de tutano
04 - Sabiá
05 - Pau de Arara
06 - A volta da Asa Branca - São João na roça
07 - Estrada de Canindé
08 - Pagode russo
09 - Boiadeiro
10 - Feira de Mangaio


BAIXE AQUI "FORRO IN THE DARK"!!! (4Shared) - link de outro blog

quinta-feira, 9 de junho de 2011

2011 - Tiê - A Coruja e O Coração


A Coruja e O Coração é o segundo disco de Tiê, artista de doce voz que canta um monte de balada beirando o juvenil, cheia de coloridos. Talvez seja o momento dela, que já abre o álbum com canção inspirada na filha recém-nascida: "Na Varanda da Liz" é alegre canção primaveril em que de piano, bateria, guitarra e voz brotam as primeiras flores do disco.
Na seqüência do trabalho, a cantora e compositora interpreta não apenas músicas suas, mas também de músicos da nova geração, tais como Mapa-Múndi, do Thiago Pethit, em que ela consegue tirar parte da gravidade da letra, inserindo leve melodia e Só Sei Dançar Com Você da Tulipa Ruiz. Ela também ousa gravar "Você Não Vale Nada", hit de recente telenovela e imprime tons de brega televisivo apoiada em violões espanhóis e ritmo de música cigana.
Neste álbum em que não faltam vivas tonalidades, destaque fica para arranjos que denotam maturidade na produção. Em faixas como "Pra Alegrar Meu Dia", a instrumentação conta com violões com cordas de aço, banjo e cadência típica que levam-nos ao universo country. "Perto e Distante" já tem clima mais introspectivo, em que para acentuar a gravidade da letra, entra classudo trompete dando certa dureza ao canto de Tiê.
Gosto muito da faixa que encerra o disco. Em clima intimista, "Te Mereço" conta com piano, cello e voz que envolvem de tal forma que deixam sensação de afagados ganhos em meio à madrugada.

01 - Na Varanda Da Liz
02 - Só Sei Dançar Com Você
03 - Piscar o Olho
04 - Perto e Distante (part. Jorge Drexler)
05 - Pra Alegrar o Meu Dia
06 - Já é Tarde
07 - Mapa-Múndi
08 - For You And For Me
09 - Hide And Seek
10 - Você Não Vale Nada
11 - Te Mereço

quarta-feira, 8 de junho de 2011

2010 - Thiago Pethit - Berlim, Texas


Thiago Pethit é músico com raízes no teatro. Filho de atores, o palco sempre fez parte de seu contexto artístico e isso fica evidente no trabalho. "Berlim, Texas" é disco repleto de imagens musicais que nos remetem para locais diversos. Por vezes, a sensação é de que somos platéia de algum picadeiro de circo, em outros momentos fica a impressão de estarmos bebendo drink em algum whisky bar texano ou cabaré de Berlim nos anos 20.
Me parece que Thiago quis levarmo-nos para passeio pelas mais diversas paisagens sempre tendo como pano de fundo denso arcabouço melancólico. Não importa por onde passamos com ele, fica sempre sensação de falta e desejo de que a figura amada magicamente apareça em algum momento ou lugar inesperado. Estaria ele dizendo que não importa de onde somos ou viemos, a dor é a mesma? Ou estaria ele convidando-nos a juntos percorrer caminhos de procura à sua amada?
Se nas letras Thiago talvez peque ao exagerar na sensação de incompletude e abandono, os arranjos, por outro lado, são felizes acertos. Piano ditando ritmo e cadência em faixas como "Mapa-Múndi", "Don't Go Away" e "Voix de Ville". Em meio à profunda desolação de "Fuga n°1", quando Thiago diz que faz as malas e some, sempre com o desejo de ser reencontrado por seu amor, entra acordeon que logo à primeira nota, com cortante timbre, explicita dor que as vezes com palavras não conseguimos.
"Nightwalker" é o típico ritmo folk em que Thiago faz interessante intro com palmas, mas a onda indie lembra-me sábia definição de grande amigo: "quanto mais diferente tentam parecer, mais iguais ficam" e ao ouvir referida faixa, não sei se quem toca é Feist, Cat Power, Arctic Monkeys, Strokes ou alguma outra dessas bandas alternativóides.

01 - Não Se Vá
02 - Mapa-Múndi
03 - Forasteiro
04 - Sweet Funny Melody
05 - Voix De Ville
06 - Fuga N°1
07 - Outra Canção Tristonha
08 - Birdhouse
09 - Nightwalker
10 - White Hat
11 - Don´t Go Away

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Galope Mais Triste da Cidade

Ontem, voltar do trabalho para casa em Vitória foi difícil missão. A cidade parou por conta de confronto entre estudantes e polícia. O galope dos cavalos da polícia montada em meio ao asfalto da cidade foi triste cadência a machucar meu coração (desculpe ser piegas, mas é isso). Tenho certeza que tamanha truculência não era necessária.
Hoje, lendo o KibeLoco, soube que no dia 22 de maio deste ano, a cidade norteamericana Grand Rapids também parou. Motivo nobre, porém. Após ser classificada por certa revista semanal como "moribunda", os moradores deram resposta em forma de videoclipe com esta linda canção do Don McLean.
Fiquei com inveja dos moradores de Grand Rapids e vergonha da polícia militar do espírito santo.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

2001 - Mario Adnet - Moacir Santos: Ouro Negro


"Ouro Negro" é celebração de gala ao trabalho de Moacir Santos. Encontramos aqui memorável retrospectiva da carreira deste que talvez tenha sido o mais importante maestro brasileiro. Todas as músicas seguem arranjos originalmente escritos por Moacir para os discos "Coisas" (1965), "Maestro" (1972) e "Carnival of The Spirits" (1975).
Além dos excelentes músicos integralmente envolvidos no projeto (Jessé Sadoc - Trompete; Vitor Santos - Trombone; Ricardo Silveira - Guitarra; Nailor Proveta - Clarinete; Mario Adnet - Violão etc), outros grandes nomes da música brasileira acrescentam brilhantismo ao trabalho. Milton Nascimento magistralmente interpreta "Coisa N° 8 - Navegação" (uma das minhas favoritas do disco); Ed Motta suinga cheio de veneno em "Orfeu (Quiet Carnival)"; Djavan e Moacir Santos espalham leveza, doçura e sonho bom em "Sou Eu"; Gilberto Gil põe categoria em "Maracatu, Nação do Amor (April Child)" e por aí vamos nesta merecidíssima homenagem ao grande Moacir.
A Petrobras viabilizou a elaboração desta complexa obra-prima e alguns críticos brincaram que a única coisa ruim do disco era o título, pois "Ouro Negro" faz alusão direta ao bem de capital que tornou possível a materialização desta pérola. Até acho que ele é bem sugestivo. Assim como na extração do petróleo brasileiro, a matéria bruta aqui contida teve que ser extraída das mais altas profundezas, como bem ilustra o caso de alguns arranjos das músicas do disco "Coisas", que não foram encontrados e Adnet precisou de longa pesquisa para reescrevê-los.

CD 01
01 - Coisa No. 5 - Nanã
02 - Suk-cha
03 - Coisa No. 6
04 - Coisa No. 8 - Navegação
05 - Amphibious
06 - Mãe Iracema
07 - Coisa No. 1
08 - Sou Eu
09 - Bluishmen
10 - Kathy
11 - Kamba
12 - Coisa No. 9
13 - Orfeu (Quiet Carnival)
14 - Amalgamation

CD 02

01 - Coisa No. 7
02 - Coisa No. 2
03 - Lamento Astral (Astral Whine)
04 - Maracatu, Nação Do Amor (April Child)
05 - Coisa No. 4
06 - Coisa No. 10
07 - Jequié
08 - Oduduá (What's My Name)
09 - Coisa No. 3
10 - Anon
11 - Quermesse
12 - De Repente, Estou Feliz (Haply Happy)
13 - Maracatucutê
14 - Bodas De Prata Dourada

Quiet Dawn

Certas madrugadas despertam sonhos, timbres e desejos.
Nesta, veio "Quiet Dawn". Faixa de abertura do disco "One Offs, Remixes & B-Sides", que postei há algum tempo.

terça-feira, 31 de maio de 2011

1976 - Edu Lobo - Limite das Águas


Ouço este disco e escuto um Edu náufrago. Perdido em mares de desilusão e guiado pela bússola da esperança, Lobo parece procurar forças para acreditar que o amor pode renascer. A primeira faixa evidencia esse sentimento [de desilusão]: "Tinha traição no caso / Tinha desengano / Tinha leva-e-trás / Um coração calado / Uma intenção partida / Um desencontro a mais". Interessante notar que até a concepção de orquestração foge um pouco dos padrões deste grande arranjador. Aqui, os diálogos mais interessantes estão entre instrumentos de sopro e vocais e o piano perde parte do destaque.
Os instrumentos de sopro remetem ao prenúncio de tempo de águas. Aquele vento que vira e precede chuva que invade o disco junto de letras encharcadas de lirismo em que transbordam palavras como rio, mar, ondas, marinheiro, remador, navegar, destino, fruto, etc.
Como de praxe, Edu estava circundado por excelentes músicos. Dentre outros, listo Toninho Horta, Mauro Senise, Nivaldo Ornelas, Danilo Caymmi e Jacques Morelenbaum.

01 - Uma vez um caso (part. Joyce)
02 - Negro, negro
03 - Considerando
04 - Toada
05 - Gingado dobrado (nordestino)
06 - Limite das águas
07 - Cinco criancas
08 - Segue o coração
09 - Repente

sexta-feira, 27 de maio de 2011

1975 - Jorge Ben - Solta o Pavão


Em dia de festa no futebol brasileiro, resolvi também jogar confete. "Zagueiro", faixa que abre este disco de extrema qualidade e inspiração, é homenagem ao beque Rondineli em que Jorge, com a magia que lhe é peculiar, narra (com incontáveis jargões futebolísticos, claro!) as virtudes necessárias ao jogador desta ingrata posição.
Os encantos de "Solta o Pavão" não param por aí. Arranjos venenosos inserem piano (e piano elétrico), flautas, vozes, violão, orquestra de cordas, arp strings, baixo e bateria e dão às músicas tom de realeza caindo na folia (assim como hoje).
Com rara beleza e certo misticismo, elegantemente Jorge conduz sua trupe para fazer ousado e imperdível disco. "Jorge de Capadócia" tem aqui registro definitivo e arrepiante, quando com quase um minuto de música, ele insere quebra de entortar ouvidos e "recomeça" a música com fascinante piano elétrico. Outros clássicos também nasceram aqui: "Se segura malando" e "Dumingaz" são alguns exemplos.
"Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros" é linda oração em que Ben docilmente pede misericórdia e sabedoria ao Nosso Senhor para fazer dele um enviado para salvar velhos, flores, criancinhas e cachorros. Estou certo que conseguiu salvar muito mais que isso.

01 - Zagueiro
02 - Assim Falou Santo Tomaz De Aquino
03 - Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros
04 - Dorothy
05 - Cuidado Com O Bulldog
06 - Para Ouvir No Rádio (Luciana)
07 - O Rei Chegou, Viva O Rei
08 - Jorge De Capadócia
09 - Se Segura Malandro
10 - Dumingaz
11 - Luz Polarizada
12 - Jesualda


Afetuosamente, dedico este post ao Calheiros e ao Tonico, que brindaram-me com belíssimos emails neste dia de festa!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Lançamento CD "IO" - Sérgio Benevenuto


Boa sugestão para quem está em Vitória hoje é ir ao Bar Twins e participar da festa de lançamento do CD "IO", de Sérgio Benevenuto. Tive oportunidade de ouvir o disco e recomendo.

2008 - Sérgio Benevenuto - Onde Andará Ruff Cutz?


Situo o leitor com transcrição de trecho do release de Benevenuto. "(...)tem como parceiro um banco de loops de bateria chamado Ruff Cutz, uma paródia a 'rough cuts' ('takes toscos' ou 'cortes toscos'), gravados por um músico holandês descoberto em suas pesquisas [de Sérgio] na internet."
Sérgio Benevenuto, produtor musical, professor, arranjador e músico, após longa caminhada nos bastidores da música, lançou seu primeiro disco em 2008. Com interessante proposta de fazer disco "cinematográfico" em que melodias facilmente convertem-se em imagens, recrutou competentes músicos para gravar "Por Onde Andará Ruff Cutz". A intenção foi fazer disco de malemolente pegada em que os artistas estariam livres para suingar, não muito presos a script pré-estabelecido. Por considerar-se mais arranjador e produtor, Sérgio empenhou maior esforço em arranjos e melodias ao invés de virtuose em solos de instrumentos.
Ouço "Ruff Cutz" e tenho impressão de ver Sérgio passeando dentro do universo musical que o circula. É obra do artista olhando para fora, como bem ilustra a capa, a procura está pelas ruas de suas cidades .
Gosto muito do diálogo entre duas vozes nas faixas "As Franjas do Vestido de Sônia" (flauta em sol que me remete às praias de Los Angeles de um lado e trompete de noites de jazz em NY do outro) e "O Suingue do Menino no Molejo Dela", repletas de cadência jazzística e interessante suingue. Destaco também a faixa "Cores da Alma" que tem pegada intimista e belíssima instrumentação.

01 - Ocrópteros
02 - As Franjas do Vestido de Sônia
03 - De Repente na Cidade Tour
04 - Cores da Alma
05 - Mas a Parada é Dupla
06 - Absinto
07 - Kalma Lá,Vizim
08 - Mania de Perseguição
09 - O Suingue do Menino no Molejo Dela
10 - Onde Andará Ruff Cutz?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Aquarela

terça-feira, 24 de maio de 2011

1998 - Nana Caymmi - Resposta Ao Tempo


Nana Caymmi tem o dom de emocionar com fortes e graves interpretações. "Resposta ao Tempo", música que dá título ao disco é ilustrativo exemplo. Nana passeia com densa beleza sobre história de relação entre memória, tempo e sonhos desfeitos. Impressionante como ela não perde o fôlego e imprime linda cadência nesta intensa história. Outro momento em que o disco aborda o tema tempo e memória afetiva é "Não Se Esqueça de Mim", letra de Erasmo e Roberto Carlos em que apesar de um romance acabado, permanece o desejo de que a lembrança se perpetue no coração de antigo amante: "Onde você estiver, não se esqueça de mim".
Álbum com arranjos sutis em que a banda está preparada para sustentar o brilho de Nana. Destaque para as participações de Chico Buarque, Emílio Santiago e Erasmo Carlos.

01 - Resposta Ao Tempo
02 - Até o Redentor
03 - Não Se Esqueça de Mim (part. Erasmo Carlos)
04 - Meu Sonho
05 - Cantiga
06 - Chega de Tarde
07 - Bolero de Neblina
08 - Doralinda (part. Emílio Santiago)
09 - Longe dos Olhos
10 - Saudade do Rio
11 - A Cara do Espelho
12 - Pra Machucar Meu Coração
13 - Até Pensei (part. Chico Buarque)
14 - Fascinação (Fascination)
15 - Minha Nossa Senhora

segunda-feira, 23 de maio de 2011

1978 - Edu Lobo - Camaleão


Um dos maiores talentos de Edu Lobo é a capacidade de montar arranjos com imensa qualidade. Em "Camaleão", ele passeia por diversos ritmos (forró, bossa, clássica etc) com belíssimas instrumentações, cheias de texturas muito bem elaboradas que fazem-nos passear Brasil afora e Edu adentro. Outro ponto forte deste disco é Edu Lobo harmonizar união de elegante piano com vozes do grupo Boca Livre, instrumentos de sopro e seu próprio canto.
A seleção do repertório não fica atrás e agrega ainda mais beleza à obra. "Lero Lero", faixa de abertura, não a toa virou hit e embute dentre seus elementos letra envolvente e maliciosa, cadência suingada e rica participação dos vocais do Boca Livre. A faixa seguinte, releitura de "Trenzinho do Caipira" com adendo de poema de Fereira Gullar é no mínimo marcante. "Coração Noturno" tem desconcertante união entre arranjo e letra: "Meu coração bate lento / Como se fôsse um pandeiro / Marcando meu sentimento / Retendo meu desespero", acordes melancólicos aliados a timbres cortantes despedaçam o coração do ouvinte.
Sugiro especial atenção ao piano deste disco.

01 - Lero Lero (part. Boca Livre)
02 - O Trenzinho Do Caipira (part. Boca Livre)
03 - Coração Noturno
04 - Canudos (part. Boca Livre)
05 - Camaleão
06 - Sanha Na Mandinga (part. Boca Livre)
07 - Branca Dias
08 - Bate Boca
09 - Descompasso
10 - Memórias De Marta Saré (part. Wanda Sá)

A Rosa do Povo

Caro leitor, uma vez mais abuso de tua paciência e posto poema do Drummond.
"Passagem do ano" está em "A Rosa do Povo" (livro que foi leitura obrigatória no ano em que fiz vestibular) e Drummond, com sua mágica forma de encarar as coisas, aborda assunto que o blog homenageia este ano: o tempo.

PASSAGEM DO ANO
(Carlos Drummond de Andrade)

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com
[sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.

A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Poemas Brasileiros


Sexta feira passada, João Donato fez show no Teatro do Sesi que só de lembrar arrepio. Coisa linda ver aquele gênio interagindo com piano, voz e platéia.
Teremos hoje outra noite de gala. O Teatro Carlos Gomes receberá Wanderson Lopez com o show Poemas Brasileiros. Tive a alegria de estar presente na noite de lançamento do disco.
Wanderson é artista que preocupa-se com detalhes e no referido espetáculo, encantamento surge com o abrir das cortinas. Ao fundo há lindo e enorme painel de tecido (aproximadamente 12 metros de largura por 6 de altura) repleto de bordados, pinturas e colagens com balões e desenhos semelhates aos da capa do CD. Trabalho manual feito pelo próprio Wanderson Lopez com ajuda da mãe e do amigo Dan Mendonça.
Acompanhado de excelentes músicos, dentre eles os parceiros de Baobá Trio Edu Szajnbrum, baterista e percussionista de rara classe e o jovem e talentoso pianista (que hoje tocará acordeon) Fabiano Araújo (dois discos gravados e também fez memorável show de lançamento do disco O Aleph no mesmo Teatro Carlos Gomes). Também tocarão Anderson Paiva, Kako Dinelli, Pedro de Alcântara e Roger Rocha.
Esta noite, tenho certeza que viajarei com Wandinho e trupe pelas estradas que ligam Minas ao Espírito Santo e Bahía, passeando por inesperados cantos do Brasil e mundo.
Mal posso esperar!

Oração

Juvenil, besta, de mulherzinha e lindo!


PS: o video lembrou-me o de Elephant Gun do Beirut

quinta-feira, 19 de maio de 2011

1978 - Paulinho da Viola [1996 Remaster]


"Algo de muito especial ocorre então.
E não à linha da superfície, como
pode parecer a princípio.
Para alguns desses homens, o
conhecimento do instrumento se deu
muito antes: quando ele era ainda
madeira.
Ou mais: quando era uma árvore,
que descia chão a dentro até os
úmidos e escuros segredos da vida - o
mesmo chão que os pés do menino
um dia pisou.
E ainda pisa."

Depois destes fortes versos extraídos do encarte, sugiro pleno deleite do disco em que beleza brota antes mesmo dos primeiros acordes. O trabalho do luthier (pai do som dos instrumentos de corda) é registrado com bonitas palavras, poéticas imagens e lembra-nos que escolha de madeira ideal, cortes adequados, tamanhos que se encaixem com as mãos do artista são partes fundamentais do processo.
Musicalmente falando, temos aqui um Paulinho da Viola em sua plenitude que ao passear por diversas referências, brinda-nos num mesmo álbum com samba-canção, samba de roda e choro sempre com classe, leveza e maestria.
Destaque para a música de abertura, uma das muitas parcerias com Elton Medeiros, Sentimento Perdido carrega famosa sabedoria que o tempo entrega e que alguns fazem dela objeto de melancolia, tristeza ou rancor, enquanto outros vêm nos dizer "pensei que havia em mim um sentimento perdido não percebi quanto estava iludido e outra vez amei".
Feliz de quem ouve o Paulinho.

01 - Sentimento Perdido
02 - Atravessou
03 - Mudei De Opinião
04 - Coração Leviano
05 - Sofrer
06 - Uma História Diferente
07 - Cenários
08 - Pelos Vinte
09 - Apoteose ao Samba
10 - Sarau Para Radamés
11 - Nos Horizontes Do Mundo
12 - Miudinho

quarta-feira, 18 de maio de 2011

1987 - Tom Jobim - Passarim


Passarim é fruto da casa do jardim botânico. Época em que Jobim estava mais envolvido com natureza, família e amigos. Álbum em que os familiares Paulo Jobim e Jaques Morelenbaum assinam a produção. Fotografias feitas por Ana Jobim, design gráfico de Elianne Jobim e pintura da capa de Beth Jobim.
Os charmes do disco não param por aí. Outro ponto de destaque é a quantidade de frases marcantes como "My life is such a mess, let's have a Brahma" / "You look so cute there wearing my pajamas" (Chansong); "Porque você, sorrindo, é muito mais que lindo" (Bebel); "We kiss we're high, we're riders in the sky" (Isabella).
Paulo Jobim e Jaques Morelenbaum também assinam os arranjos deste disco, mas suspeito que tamanha sobriedade, beleza e encaixe conta com auxílio de um leve e experiente Antonio Carlos Jobim.

01 - Passarim
02 - Bebel
03 - Borzeguim
04 - Anos Dourados
05 - Isabella
06 - Fascinatin' Rhythm
07 - Chansong
08 - Samba do Soho
09 - Luiza
10 - Brasil Nativo
11 - Gabriela

terça-feira, 17 de maio de 2011

1970 - Elton Medeiros e o Samba de Morro - História da MPB - Vol. 46


Caindo na máxima "um tema, uma palavara", definiria Elton Medeiros com sensibilidade. A parceria com Paulinho da Viola rendeu alguns dos mais belos sambas. Músicas leves, apaixonadas e inspiradoras fazem parte do repertório da dupla.
Este disco é uma coletânea feita pela editora Abril em que diversos cantores interpretam diferentes momentos da carreira do artista. Uma breve pincelada sobre o grandioso trabalho do Elton.
Deixo a letra de "Pressentimento", que ilustra bem o que disse sobre o ilustre sambista.

Pressentimento
(Elton Medeiros)
ai! ardido peito
quem irá entender o teu segredo?
quem ira pousar em teu destino?
e depois morrer do teu amor?

ai! mas quem virá?
me pergunto a toda hora
e a resposta é o silêncio
que atravessa a madrugada

vem meu novo amor
vou deixar a casa aberta
já escuto os teus passos
procurando meu abrigo

vem, que o sol raiou
os jardins estão florindo
tudo faz pressentimento
que este é o tempo ansiado
de se ter felicidade.

01 - Rosa de Ouro (Conjunto Rosa de Ouro)
02 - Pressentimento (Elza Soares)
03 - A maioria sem nenhum (Elton Medeiros)
04 - Filosofia do samba (Candeia)
05 - Quatro crioulos (Elton Medeiros)
06 - A voz do morro (Zé Keti)
07 - Viola de massaranduba (Geraldo Babão)
08 - Casa de bamba (Martinho da Vila)
09 - Vem chegando a madrugada (Noel Rosa de Oliveira)
10 - Deixa de zanga (Candeia)


quinta-feira, 12 de maio de 2011

1975 - Jorge Ben & Gilberto Gil - Gil & Jorge, Ogum Xango


Conheci este álbum nos [nem tão saudosos] tempos de baixar mp3 via napster ou emule, não lembro bem. Recordo a enorme expectativa para ouvir a união destes dois artistas que aprecio demais. Resultado foi enorme desilusão. Disco extremamente experimental que em quase nada lembra o Gil e o Jorge aos quais estava acostumado.
Os anos passaram com aquele pré-conceito estabelecido. Alguns meses atrás, grande amigo veio falando deste disco, que é bom demais etc e talz. Não só discordei como fiz questão de trocar o som. Mas a insistência foi grande e fomos escutá-lo.
O reencontro com esta pérola fez então sentido. O entrosamento entre os dois é algo desconcertante. Arrisco dizer que este é o trabalho em que ambos ficam mais próximos à psicolodelia. Disco gravado em clima de jam session em que eles exploram riffs, melodias, ritmos e vozes de maneira libertária.
Ouço agora e entendo que a junção de Gil e Jorge merecia disco nem um pouco óbvio, afinal de contas, estamos falando de dois dos mais melódicos e inovadores músicos populares brasileiros. Ou seja, temos Gil e Jorge remexendo suas mais profundas raízes sonoras em união simbiótica.

01 - Meu glorioso São Cristovão
02 - Nega (Photograph blues)
03 - Jurubeba
04 - Quem mandou (Pé na estrada)
05 - Taj Mahal
06 - Morre o burro, fica o homem
07 - Essa é pra tocar no rádio
08 - Filhos de Gandhi
09 - Sarro


PS: Vale mencionar que Eric Clapton ouviu Gil e Jorge tocando juntos e não só ficou impressionado com o resultado como foi dos maiores incentivadores para que eles registrassem esse encontro.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

1982 - Djavan - Luz


Djavan impressiona pela força da seqüência de seus trabalhos. Luz é seu quinto disco e aqui ele mostra ter fôlego para continuar no caminho de sólidos registros musicais. Álbum gravado e produzido nos Estados Unidos a convite da gravadora CBS (futura Sony Music) e com impacto naquele mercado. Naipes como o músico e produtor Quincy Jones elogiaram o trabalho.
A música de abertura, Samurai, conta com participação especial de Stevie Wonder. Aparições especialíssimas não param por aí. Ninguém menos que Moacir Santos assina arranjo de "Capim" e Raul de Souza também está presente em "Luz" e "Capim".
Dentre diversos hits, destaque para Samurai, Sina, Açaí e Pétala. Frases como "viver é todo sacrifício feito em seu nome"; "quanto mais desejo um beijo seu, mais gosto vejo em viver"; "quanto querer cabe em meu coração" e "vai sem me dizer na casa da paixão" sugerem um Djavan apaixonado que consegue exprimir a densidade de todo esse amor com acordes leves e suingados. Audição imperdível.

01 - Samurai
02 - Luz
03 - Nobreza
04 - Capim
05 - Sina
06 - Pétala
07 - Banho de Rio
08 - Açaí
09 - Esfinge
10 - Minha Irmã

BAIXE AQUI "LUZ"!!! (MegaUpload)