quinta-feira, 30 de junho de 2011

2003 - Los Hermanos - Ventura


Dia desses, uma amiga falou-me sobre disco que ouviu muito em determinada fase da vida e que apesar de gostar, achava que não seria capaz de escutá-lo novamente. Comentei que talvez, no futuro, uma ou duas faixas voltassem a fazer total sentido. Não sei se por força dessa conversa ou das circunstâncias, reencontrei-me com Ventura, primeiro álbum dos Los Hermanos a conquistar-me (e de maneira avassaladora, confesso). Lembro de ficar encantado com a mescla de rock com arranjos bem elaborados contando com metais, teclados, sintetizadores e cadências não tão óbvias.
Engraçado voltar a ouvir certas coisas seis anos depois. Algumas implicâncias continuam, ainda não consigo digerir "Cara Estranho", por exemplo. Por outro lado, devo ressaltar o lirismo do olhar de Camelo. Algumas letras tiveram fonte de inspiração em notícias de jornal (Conversa de Botas Batidas), televisão (O Vencedor) e outros discos. Se antes, o que mais chamava-me atenção era a forma quase ingênua, autêntica e cheia de suingue das canções do Amarante (coisa linda é a paixão na terceira idade narrada na faixa "Último Romance"), hoje o que me toca é a doce forma de encarar as durezas da vida e caminhar sonhando com sereno reencontro em que Camelo envolve-nos com "Além do que se vê".

01 - Samba a Dois
02 - O Vencedor
03 - Tá Bom
04 - Último Romance
05 - Do Sétimo Andar
06 - A Outra
07 - Cara Estranho
08 - O Velho e o Moço
09 - Além do que se vê
10 - O pouco que sobrou
11 - Conversa de Botas Batidas
12 - Deixa o Verão
13 - Do Lado de Dentro
14 - Um Par
15 - De Onde Vem a Calma


"é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê"

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ausência


Caros leitores, hoje compartilho um pouco mais dos sábios versos de Drummond.
Não resisti e acrescentei um desenho do Calvin!

Ausência
(Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

1971 - Novos Baianos & Baby Consuelo - No Final do Juízo


Em 1971, "Novos Bahianos" e Baby Consuelo lançaram o single No Final do Juízo. Aqui, a sonoridade das canções é o que mais chama atenção. Os músicos misturam rock'n'roll com psicodelia e regionalismo. "Dê um rolê", faixa de abertura, ilustra muito bem o caso e tem intro feita com sanfona típica do forró nordestino, depois o arranjo cresce e entram guitarras um tanto progressivas que lembram bandas de rock como Pink Floyd, acrescenta-se a isso uma flauta que remete aos sons do Jethro Tull e está aí formada uma música envolvente em cada detalhe. A letra magicamente ilustra sonhos de uma época que passou, mas ainda digo que sou amor da cabeça aos pés, apesar de as vezes duvidar que a vida é boa.
Duas coisas que merecem ser pontuadas são a participação do grupo "A Cor do Som" que acrescenta brilhantismo às músicas e a capa do compacto, que faz alusão a Jesus Cristo e o Juízo Final, mas aqui mora o final do juízo.

01 - Dê Um Role
02 - Você Me Da Um Disco?
03 - Caminho De Pedro
04 - Risque

terça-feira, 21 de junho de 2011

2011 - The Decemberists - The King Is Dead


The King Is Dead é o sexto álbum da banda de folk rock The Decemberists. Neste trabalho, eles optaram por instrumentações mais próximas ao acústico e as melodias são quase ensolaradas, algo que parece ser raro na carreira dos caras. Para gravar este disco, eles refugiaram-se por dois meses e meio numa fazenda em Oregon e os ares do campo parecem soprar em algumas canções.
O título do disco remete a outro famoso álbum, o The Queen Is Dead dos Smiths, mas o cabeça da banda, Colin Meloy, logo explica que a principal referência é outra: R.E.M., e Peter Buck (guitarrista do R.E.M.), faz participação especial em três faixas.
Fica aí sugestão de som para ensolarar dias deste inverno que promete ser o mais frio das últimas temporadas.
Ah, o video que postei ontem, tem como trilha sonora a faixa "Rox In The Box".

01 - Don't Carry It All
02 - Calamity Song
03 - Rise To Me
04 - Rox In The Box
05 - January Hymn
06 - Down By The Water
07 - All Arise!
08 - June Hymn
09 - This Is Why We Fight
10 - Dear Avery

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Volta por aí

Coisa linda...

Carving the Mountains from Juan Rayos on Vimeo.


"Velho, vai por mim. andar de skate lava a alma!"
Abração pra vc, Carlos Jr.!
(e começo a acreditar nessa história do skate...)

Desejo Amor

Vivi nove anos inteiros ontem.
"- Ó vida futura! nós te criaremos"





Carinhosamente, dedico esta postagem a Maria Fernanda, Patrícia e Raquel. Também desejo amor a vocês todas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

2006 - Francis Hime - Arquitetura da Flor


"Arquitetura da Flor" é daqueles discos que começam a envolver por capa e título. Lembro-me de minha adolescência e de incontáveis CDs que comprei por conta de título inusitado ou desenho bem feito. Fato é que muitas vezes, o que parecia interessante, transforma-se em profunda decepção. Felizmente, neste caso, ouvir o disco revela-se experiência ainda mais inquietante. A sugestão de associar flor e planejamento (arquitetura), soou-me confusa e sem cabimento. Como misturar rosas e concreto? Como planejar forma de planta que vai brotar?
Felizmente, Hime vem sugerir algumas intepretações com seus timbres, palavras e versos pra lá de passionais. Neste disco em que assume tom confessional, Francis foca em melodias e hamonias, deixando para trás uma das marcas registradas de seus trabalhos: a grandiosidade orquestral. Nesta contundente confissão, não param de brotar sugestivas palavras como saudade, sofrer, adeus, sonhador, vida, morte, fúria, solidão, chegada, partida etc. Fico com impressão de ouvir um coração descompassado que tenta recompor frustrada história de amor e a partir daí, a idéia de arquitetar uma flor faz sentido, pois seria esse o método adotado por Francis para reescrever amargo passado com leves e envolventes melodias.
Para finalizar, vale destacar os músicos envolvidos no projeto: Ricardo Silveira (guitarra e violão), Jorge Helder (baixo), Kiko Freitas e Téo Lima (bateria), Marcelo Costa (Percussão), Vittor Santos (trombone), Jessé Sadoc (trompete), Marcelo Martins (sax e flauta), Hugo Pilger (violoncelo), Cristiano Alves (clarineta).
Disco para ser ouvido em cada detalhe e calmamente digerido.

01 - A invenção da rosa
02 - Gozos da alma
03 - Sem saudade
04 - Palavras cruzadas
05 - A musa da TV
06 - Desacalanto
07 - Do amor alheio
08 - A dor a mais
09 - Mais-que-imperfeito
10 - Cadê
11 - História de amor
12 - O mar do amor total

terça-feira, 14 de junho de 2011

2011 - Tonho Crocco - O Lado Brilhante da Lua


Hoje, no SESC Pompéia Chopperia (com entrada grátis), Tonho Crocco (ex-vocalista da banda Ultramen) lança seu primeiro disco solo, "O Lado Brilhante da Lua". Mais informações pelo site de Tonho, neste link. O músico explica que a idéia para o título do trabalho surgiu por ele ser fã de "The Dark Side of The Moon", mas ao contrário do referido álbum, aqui a proposta é fazer o oposto. Canções animadas e menos introspectivas são a tônica de "O Lado Brilhante da Lua".
Crocco passeia por alguns ritmos, como afrobeat e samba, mas a base do disco está num soul com elementos pop. Arranjos contam com metais, guitarra, teclado, bateria em pegadas cheias de groove e suingue. Fica nítido o cuidado com detalhes da produção, haja vista a masterização feita no Abbey Road Studio de Londres.
Taí sugestão de programa para quem está em Sampa.

01 - MoMo King Intro
02 - O Lado Brilhante da Lua
03 - Abre Alas (O Carro Destemido)
04 - Teto Solar
05 - Réu Primario
06 - O Conjunto da Obra
07 - Quadratura
08 - Doce Amargo
09 - Samba da Gamboa
10 - Árida Saudade

sexta-feira, 10 de junho de 2011

2006 - Forro In The Dark


Forro In The Dark é banda formada por brasileiros radicados em Nova Iorque. A proposta é fazer releitura do forró com roupagem contemporânea. Não consegui pesquisar maiores detalhes sobre a banda e especificidades do disco em questão (infelizmente, sequer ficha técnica encontrei), mas tenho impressão de que este é o primeiro deles. Aqui os caras ainda estão mais "presos" aos clássicos do forró e não ousam tanto nos arranjos como em discos um pouco mais recentes.
A seleção das músicas para este disco foi acertadíssima e conta com nomes do calibre de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. A faixa de abertura é obrigatória em qualquer forró pé-de-serra de qualidade: "Xote das meninas" (forrozeiras, por gentileza corrijam-me se estiver enganado), é música que agita o salão e todo mundo sabe a letra de cor; "Assum preto" tem aqui versão instrumental em que sanfona faz condução e os outros instrumentos vêm atrás a encher a música de cores; "Sabiá" tem arranjo "minimalista" que por vezes fico confuso e não sei se estou ouvindo jazz, tango ou forró e por aí vamos passeando por pistas de dança mundo afora. Não a toa os caras conquistaram os gringos.
Fica aí boa sugestão de som para você colocar em seu arraiá e dar uma arrojada na festinha (sugiro também um cadin de quentão!).

01 - Xote das meninas
02 - Assum Preto
03 - Vou de tutano
04 - Sabiá
05 - Pau de Arara
06 - A volta da Asa Branca - São João na roça
07 - Estrada de Canindé
08 - Pagode russo
09 - Boiadeiro
10 - Feira de Mangaio


BAIXE AQUI "FORRO IN THE DARK"!!! (4Shared) - link de outro blog

quinta-feira, 9 de junho de 2011

2011 - Tiê - A Coruja e O Coração


A Coruja e O Coração é o segundo disco de Tiê, artista de doce voz que canta um monte de balada beirando o juvenil, cheia de coloridos. Talvez seja o momento dela, que já abre o álbum com canção inspirada na filha recém-nascida: "Na Varanda da Liz" é alegre canção primaveril em que de piano, bateria, guitarra e voz brotam as primeiras flores do disco.
Na seqüência do trabalho, a cantora e compositora interpreta não apenas músicas suas, mas também de músicos da nova geração, tais como Mapa-Múndi, do Thiago Pethit, em que ela consegue tirar parte da gravidade da letra, inserindo leve melodia e Só Sei Dançar Com Você da Tulipa Ruiz. Ela também ousa gravar "Você Não Vale Nada", hit de recente telenovela e imprime tons de brega televisivo apoiada em violões espanhóis e ritmo de música cigana.
Neste álbum em que não faltam vivas tonalidades, destaque fica para arranjos que denotam maturidade na produção. Em faixas como "Pra Alegrar Meu Dia", a instrumentação conta com violões com cordas de aço, banjo e cadência típica que levam-nos ao universo country. "Perto e Distante" já tem clima mais introspectivo, em que para acentuar a gravidade da letra, entra classudo trompete dando certa dureza ao canto de Tiê.
Gosto muito da faixa que encerra o disco. Em clima intimista, "Te Mereço" conta com piano, cello e voz que envolvem de tal forma que deixam sensação de afagados ganhos em meio à madrugada.

01 - Na Varanda Da Liz
02 - Só Sei Dançar Com Você
03 - Piscar o Olho
04 - Perto e Distante (part. Jorge Drexler)
05 - Pra Alegrar o Meu Dia
06 - Já é Tarde
07 - Mapa-Múndi
08 - For You And For Me
09 - Hide And Seek
10 - Você Não Vale Nada
11 - Te Mereço

quarta-feira, 8 de junho de 2011

2010 - Thiago Pethit - Berlim, Texas


Thiago Pethit é músico com raízes no teatro. Filho de atores, o palco sempre fez parte de seu contexto artístico e isso fica evidente no trabalho. "Berlim, Texas" é disco repleto de imagens musicais que nos remetem para locais diversos. Por vezes, a sensação é de que somos platéia de algum picadeiro de circo, em outros momentos fica a impressão de estarmos bebendo drink em algum whisky bar texano ou cabaré de Berlim nos anos 20.
Me parece que Thiago quis levarmo-nos para passeio pelas mais diversas paisagens sempre tendo como pano de fundo denso arcabouço melancólico. Não importa por onde passamos com ele, fica sempre sensação de falta e desejo de que a figura amada magicamente apareça em algum momento ou lugar inesperado. Estaria ele dizendo que não importa de onde somos ou viemos, a dor é a mesma? Ou estaria ele convidando-nos a juntos percorrer caminhos de procura à sua amada?
Se nas letras Thiago talvez peque ao exagerar na sensação de incompletude e abandono, os arranjos, por outro lado, são felizes acertos. Piano ditando ritmo e cadência em faixas como "Mapa-Múndi", "Don't Go Away" e "Voix de Ville". Em meio à profunda desolação de "Fuga n°1", quando Thiago diz que faz as malas e some, sempre com o desejo de ser reencontrado por seu amor, entra acordeon que logo à primeira nota, com cortante timbre, explicita dor que as vezes com palavras não conseguimos.
"Nightwalker" é o típico ritmo folk em que Thiago faz interessante intro com palmas, mas a onda indie lembra-me sábia definição de grande amigo: "quanto mais diferente tentam parecer, mais iguais ficam" e ao ouvir referida faixa, não sei se quem toca é Feist, Cat Power, Arctic Monkeys, Strokes ou alguma outra dessas bandas alternativóides.

01 - Não Se Vá
02 - Mapa-Múndi
03 - Forasteiro
04 - Sweet Funny Melody
05 - Voix De Ville
06 - Fuga N°1
07 - Outra Canção Tristonha
08 - Birdhouse
09 - Nightwalker
10 - White Hat
11 - Don´t Go Away

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Galope Mais Triste da Cidade

Ontem, voltar do trabalho para casa em Vitória foi difícil missão. A cidade parou por conta de confronto entre estudantes e polícia. O galope dos cavalos da polícia montada em meio ao asfalto da cidade foi triste cadência a machucar meu coração (desculpe ser piegas, mas é isso). Tenho certeza que tamanha truculência não era necessária.
Hoje, lendo o KibeLoco, soube que no dia 22 de maio deste ano, a cidade norteamericana Grand Rapids também parou. Motivo nobre, porém. Após ser classificada por certa revista semanal como "moribunda", os moradores deram resposta em forma de videoclipe com esta linda canção do Don McLean.
Fiquei com inveja dos moradores de Grand Rapids e vergonha da polícia militar do espírito santo.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

2001 - Mario Adnet - Moacir Santos: Ouro Negro


"Ouro Negro" é celebração de gala ao trabalho de Moacir Santos. Encontramos aqui memorável retrospectiva da carreira deste que talvez tenha sido o mais importante maestro brasileiro. Todas as músicas seguem arranjos originalmente escritos por Moacir para os discos "Coisas" (1965), "Maestro" (1972) e "Carnival of The Spirits" (1975).
Além dos excelentes músicos integralmente envolvidos no projeto (Jessé Sadoc - Trompete; Vitor Santos - Trombone; Ricardo Silveira - Guitarra; Nailor Proveta - Clarinete; Mario Adnet - Violão etc), outros grandes nomes da música brasileira acrescentam brilhantismo ao trabalho. Milton Nascimento magistralmente interpreta "Coisa N° 8 - Navegação" (uma das minhas favoritas do disco); Ed Motta suinga cheio de veneno em "Orfeu (Quiet Carnival)"; Djavan e Moacir Santos espalham leveza, doçura e sonho bom em "Sou Eu"; Gilberto Gil põe categoria em "Maracatu, Nação do Amor (April Child)" e por aí vamos nesta merecidíssima homenagem ao grande Moacir.
A Petrobras viabilizou a elaboração desta complexa obra-prima e alguns críticos brincaram que a única coisa ruim do disco era o título, pois "Ouro Negro" faz alusão direta ao bem de capital que tornou possível a materialização desta pérola. Até acho que ele é bem sugestivo. Assim como na extração do petróleo brasileiro, a matéria bruta aqui contida teve que ser extraída das mais altas profundezas, como bem ilustra o caso de alguns arranjos das músicas do disco "Coisas", que não foram encontrados e Adnet precisou de longa pesquisa para reescrevê-los.

CD 01
01 - Coisa No. 5 - Nanã
02 - Suk-cha
03 - Coisa No. 6
04 - Coisa No. 8 - Navegação
05 - Amphibious
06 - Mãe Iracema
07 - Coisa No. 1
08 - Sou Eu
09 - Bluishmen
10 - Kathy
11 - Kamba
12 - Coisa No. 9
13 - Orfeu (Quiet Carnival)
14 - Amalgamation

CD 02

01 - Coisa No. 7
02 - Coisa No. 2
03 - Lamento Astral (Astral Whine)
04 - Maracatu, Nação Do Amor (April Child)
05 - Coisa No. 4
06 - Coisa No. 10
07 - Jequié
08 - Oduduá (What's My Name)
09 - Coisa No. 3
10 - Anon
11 - Quermesse
12 - De Repente, Estou Feliz (Haply Happy)
13 - Maracatucutê
14 - Bodas De Prata Dourada

Quiet Dawn

Certas madrugadas despertam sonhos, timbres e desejos.
Nesta, veio "Quiet Dawn". Faixa de abertura do disco "One Offs, Remixes & B-Sides", que postei há algum tempo.