segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Barcelona - Freddie Mercury & Montserrat Caballé

Ontem minha tarde terminou com a triste notícia da perda de um grande amigo. Ainda não assimilei o golpe, mas lembrei que no final do ano passado ele enviou-me este texto. Apesar de ter gostado muito, achei que tinha ficado grande para os padrões do blog e ele disse que não estava terminado.



Segue o texto:

Queria eu poder contar uma história bonita. Uma daquelas histórias cheias de romantismo que surgem naturalmente quando pessoas românticas visitam lugares românticos. Mas não vou mentir. Quando visitei o Parque Olímpico de Barcelona, sede das olimpíadas de 1992, eram tantos afazeres turísticos que eu ainda tinha de enfrentar, que não pensei em nenhum momento naquilo que mais me marcou naqueles jogos. Clima ameno, as cores se avivando com o lindíssimo por do sol do alto do Montjuic e o máximo que consegui foi fazer uma rápida chacota sobre o arqueiro que errou a flecha que acenderia a tocha olímpica. Nada sobre o dueto entre Freddie Mercury & Montserrat Caballé que fez a melhor trilha sonora de jogos olímpicos desde a Grécia antiga. Tudo bem, meu lema é que viagem grande a gente digere aos poucos. Como jibóia a um bezerro.
Na época, eu não tinha mais que 10 anos de idade. Eu não gostava de música mas tinha ganhado um walkman novo, um daqueles digitais, que procurava as estações de rádio sozinho. Eu gostava mesmo era de tecnologia, mas precisava de alguma fita para testar minha nova geringonça. Eu já tinha destruído minhas fitas da Xuxa há tempos, depois que descobri que tapando aqueles furinhos laterais com durex, poderia gravar por cima das músicas originais. Assim, no ócio vespertino de minha tenra infância de apartamento, produzi inúmeras rádios experimentais e acabei com todo meu acervo de fitas. Uma tia, pelo que me lembro, deixou que eu levasse uma fita de sua casa. Ou talvez eu não a tenha avisado. Bem, não importa. O que interessa é que a fita se chamava Barcelona. Era o dueto formado pela cantora lírica espanhola Montserrat Caballé e o astro do rock inglês Freddie Mercury. Na época, obviamente, eu não sabia de nada disso. Pra mim, era a fita do bigodudo e da gordona escandalosa. Também pudera, na capa da fitinha, Freddie estufava o peito de colete, roupa social e gravata borboleta, enquanto Caballé, sentada, sorria graciosa dentro de um vestido sóbrio. O encarte tinha tons envelhecidos e fontes para lá de tradicionais, quase do velho oeste. Na minha jovial ignorância, achava que aquilo era velho, muito velho, mais velho que os meus pais.
Na brincadeira de testar o walkman, acabei conquistado pelas canções do casal – é claro que ajudou também eu só ter aquela fita e não ter a mínima paciência com locutores de rádio. O contraste entre as duas vozes de potência arrasadora e as músicas que iam do clássico ao rock em segundos me impressionavam cada vez mais à medida que eu rebobinava a fita para ouvi-la novamente. Não é a toa que Mercury, com sua banda Queen, se destacou por ter criado um novo gênero chamado Opera Rock. Todas as músicas soavam como sinfonias enxutas, com momentos suspirados, de quase silêncio, até radicalismos extremos, quando orquestra, guitarras, coral e cantores entram juntos com toda potência.

Gabriel Labanca
PS: Labanca, vc só errou numa coisa: a história é bonita!
PS2: Outra hora posto um link pro disco