sexta-feira, 25 de julho de 2008

1991 - Nirvana - Nevermind


"(...) Em 1991, enquanto as paradas eram dominadas por Michael Jackson e Whitney Houston, e o rock era sinônimo de hair bands, glam rock ou cock rock, liderados por Bon Jovi e Guns ‘n Roses (seguidos por aberrações como Twisted Sisters, Poison, Mötley Crüe, Nelson etc), surgia o Nirvana.
O álbum [Nevermind] é honesto no sentido de realmente soar como uma banda de garagem super produzida. Os arranjos são crus e as músicas simples; os riffs chegam a ser bobos, embora irresistíveis. No entanto, tudo dá a impressão de grandeza. A bateria vem como um soco na cara, Cobain e as guitarras gritam como nunca, e o baixo... bem, ninguém se importa com o baixo.
Black or White, de Michael Jackson, é chutado do primeiro lugar das paradas por Smells Like Teen Spirit, e de repente roqueiros maquiados com laquê no cabelo, de colete de couro, calça de zebra justinha, sem camisa e rodeados por strippers em uma moto, soam ridículos.
(...) Dave Grohl, bruto e constante, é um baterista como poucos de sua geração e o baixista Krist Novoselic completa a dinâmica do grupo apenas feliz por não atrapalhar e consciente de que tudo aquilo era lucro diante de seu pouco talento. E por “pouco talento” quero dizer ausência total de qualquer tipo de talento.
(...) Aqui não há lugar para coerência. E quem ouve música com a cabeça não vai gostar de Nevermind. Vai ser muito mais feliz com alguma masturbação virtuosa e vaidosa de jazz moderno sem objetividade, inspiração, coração ou inquietação artística. Tão agradáveis ou sensuais quanto uma gostosa equação matemática.
O pop rock mudou depois do grunge. O digerível e apelativo foi machucado pelo som de Seattle, mas isso não significa que tenha ficado menos pior. As bandas horrendas das rádios FM do início dos anos 2000, carregando a marca do Nirvana, Pearl Jam e cia, foram péssimas de uma forma diferente. Creed, The Calling e os próprios Foo Fighters de Grohl diluíram em mesmice e pose de gatinho a carga intensa do rock dos anos 90 depois que a moda passou e o marasmo retomou seu lugar.
De bom nunca fica nada. Só os discos – ou MP3 – que se baixa aos montes e ouve-se enquanto se faz outra coisa, sem atenção, sem valor. Quando não há valor monetário, o valor sentimental também tende a desaparecer.
(...)Nevermind foi um momento de inspiração artística que estava além das limitações do preconceito e conservadorismo do punk e do mainstream, e de todos os nivelamentos entediantes das tendências. Um breve e raro período em que a música foi o centro das atenções, aquele minuto precioso que antecede todo o vestuário, corte de cabelo, discurso opiniático, resenhas e genéricos que vêm logo atrás; atrás daquela nota na ponta do anzol, que, assim como o tempo, destrói tudo.
Menos as melodias."


Fragmentos do texto de "Por Onde Anda Kurt Kobain?" de Daniel Furlan. Pedi para os meus amigos que escrevessem textos de 3 parágrafos. O Daniel não se conteve e escreveu 3 interessantíssimas páginas. Para não amolar muito os leitores do blog, resolvi dar uma editada e liberar a íntegra do texto junto ao arquivo do disco.


01 - Smells Like Teen Spirit
02 - In Bloom
03 - Come as You Are
04 - Breed
05 - Lithium
06 - Polly
07 - Territorial Pissings
08 - Drain You
09 - Lounge Act
10 - Stay Away
11 - On a Plain
12 - Something in the Way

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