"No ano em que se comemora os 50 anos da bossa-nova, "o dia em que a bossa nova inventou o Brasil", como sabiamente diz a
letra de Tom Zé, nada melhor que falar sobre um disco que, acima de tudo, nos lembra que Vanessa da Mata, Max de Castro, Jorge Vercillo e João Suplicy, sejam o que for, passam longe do gênero. Gravado de forma descontraída, reza o mito, em apenas quatro horas, "O Poeta e o Violão" de Toquinho e Vinícius de Morais possui tudo que um legítimo álbum de bossa-nova precisa ter: aquela simplicidade musical já clichê do banquinho e violão, improvisações desajeitadas, um toque exagerado de embriaguez, uma segunda voz constante, comentários desnecessários e muitos badauês, lalaiás, lereiês, e ioiôs. Também não poderia faltar um repertório formado apenas por composições de grandes amigos e eternos parceiros como Tom Jobim, Chico Buarque, Carlos Lyra, Baden Powell e Dorival Caymmi, com a cômoda certeza de que se tratam também de nomes inquestionáveis dentro do panteão da música nacional.
O nome do disco, com a sutileza e simplicidade costumeira do gênero, o resume perfeitamente. De um lado Toquinho, o violão impecável e presença constante em grandes parcerias da música brasileira, do outro, Vinicius, o "poetinha" dos versos simples, diplomata, cronista, cineasta, dramaturgo, que junto a Tom Jobim e João Gilberto deu vida, mas principalmente conteúdo, ao fenômeno da bossa-nova em finais de 1950. Produzida num estúdio de Milão em 1975, a gravação é testemunha da duradoura parceria entre os dois artistas, nos últimos anos de vida de Vinícius, que rendeu apresentações em diversos países da Europa num dos momentos mais repressivos do governo militar brasileiro. Entretanto, não se trata aqui de canções de protesto político, pelo menos explicitamente. Muito menos se trata de um disco inovador em arranjos, com letras inéditas e surpreendentes melodias. De inovador, apenas a batida mais acelerada e apimentada com Candomblé que, junto com Baden Powell, Vinicius havia acrescentado à bossa nova – que, afinal, ainda persistia como a última grande "invenção" musical brasileira, mesmo com a insistência do Tropicalismo em jogar tudo por água abaixo. O protesto daquelas canções era mais sutil, quase ingênuo. Aquelas músicas, clássicos tocados à exaustão por diversos outros artistas, se insurgem pela volta de um tempo mais manso, um tempo que passa mais devagar, um tempo idílico em que se podia cantar sem culpa sobre uma tal de Januária que se penteia na janela, o passeio da garota em Ipanema ou os requebrados da Dora de Recife. Tempo nostálgico em que se dormia numa esteira de vime na praia de Itapoã (ainda sem os batuques amplificados do Axé) e o que de mais triste poderia acontecer era o fim do carnaval ou ficar sem os beijinhos, denguinhos e cheirinhos de um benzinho qualquer. Um tempo que talvez nem tenha existido, mas que traz muitas saudades.
Enfim, um disco recomendado para aqueles que já apreciam ou para aquele que não conhece descobrir se gosta ou odeia o ritmo. Também serve, já que estamos num ano de comemorações pelo aniversário do gênero, para impressionar seus coleguinhas alternativos com um álbum que não é tão difundido."
Texto de Gabriel Labanca
01 - Tristeza
02 - Marcha da Quarta Feira de Cinzas
03 - Morena Flor
04 - Chega de Saudade
05 - Dora
06 - Canto de Ossanha
07 - Rosa desfolhada
08 - Berimbau - Consolação
09 - Januária
10 - Insensatez
11 - Apelo
12 - Garota de Ipanema
13 - O velho e a flor
14 - Nature Boy
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