sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crônica de Uma Morte Anunciada (Jah Salvaria?)

Ainda tenho fresco na memória o dia em que li o primeiro texto falando sobre Amy Winehouse. Segundo o colunista do saudoso blog NoMínimo, a branquela cantava com potência, intensidade e autenticidade comparáveis a de saudosas divas da música negra americana como Aretha Franklin, Billie Holiday e Ella Fitzgerald. O ano era 2006 e encontrar determinados discos na internet ainda levava certo tempo. Enquanto não conseguia baixar o disco (alguns meses de procura), sempre pintava novo texto cheio de elogios à tal Winehouse.
A espera por Back to Black envolvia um misto de ceticismo, curiosidade e torcida para que Amy fizesse por merecer inúmeras críticas positivas. A primeira audição foi impactante e repeat no iPod foi a tônica do primeiro semestre de 2007. Nessa época, pela primeira vez ouvi certa frase: "Vitor, as vezes você me assusta. Coloca uma coisa na cabeça e não tira!". Ouvir aquele disco era uma constante e a cada momento algo novo chamava minha atenção. Dentro das inúmeras belezas do disco, destaco três pontos: a bateria com pegada de marcha militar e a firmeza com que ela apoiaria seu homem numa guerra pagã (Some Unholy War), deixa no ar rara paixão; o duro (e belo) suingue com tom taciturno típico do lamento da música negra da faixa Back to Black; o tão falado conteúdo autobiográfico em que ela expõe fragilidades, vícios, fraquezas, amores, desilusões etc.
Revirando meu blog, encontrei breve texto descontraído (do final de 2007) em que eu desejava que Amy ao menos gravasse mais alguns discos antes da morte anunciada. Ano passado, durante sua temporada no Caribe, torci profundamente que Jah, o reggae e toda aquela vibração positiva envolta em luz verde salvassem a vida desta inesquecível cantora. Quando ouço o interessante ska Hey Little Rich Girl, vejo que ela realmente tinha alma negra e prova sua capacidade de transitar bem por diferentes estilos. Fico sonhando com Amy gordinha, tranqüila, livre das drogas pesadas e cheia de dreadlocks, num disco que ela não gravou, mas que seria jóia rara: Amy Winehouse meets Reggae Music.
Amy, porque você não caiu no reggae?
Rest In Peace

quinta-feira, 28 de julho de 2011

2010 - Sharon Jones & The Dap-Kings - I Learned The Hard Way


Sharon Jones é a rainha da soul music contemporânea. O poder de suas interpretações e extensão vocal provam que ainda existem estrelas vivas neste gênero. Fica claro que a cantora bebe na fonte da soul music dos anos 60 e 70 e tem trajetória similar à de grandes nomes da soul music. Iniciou sua carreira em corais de igrejas (berço de inúmeros artistas da black music), cresceu ouvindo nomes como James Brown e Ottis Redding e colaborou em alguns álbuns como backing vocal, mas nunca conseguiu gravar um disco próprio. Sendo assim, buscou sustendo de outra forma: foi carcereira e segurança de carro forte.
Em 1996 Sharon reencontrou-se com a música quando a banda de seu ex-marido precisava de backing vocal e ela prontificou-se imediatamente para o posto. A banda era Soul Providers, que depois virou The Dap-Kings. Anos depois, impressionados com a pegada funky, Amy Winehouse e Mark Ronson (produtor de Winehouse) foram a Nova Iorque para contratá-los para participar do álbum que Amy gravaria e acrescentar suingue e veneno. O álbum que surgiu desse encontro foi Back to Black.
Em junho deste ano Sharon esteve no Brasil e tive a felicidade de assistir ao melhor show do ano. A produção do evento foi impecável, som perfeitamente limpo, sem a menor distorção, deixando ecoar o timbre de cada instrumento com maior clareza possível. A banda The Dap-Kings iniciou o espetáculo e deu aula de irreverência, categoria e interação com o público. Quando Jones entrou no palco foi pura festa com momentos de soul music da melhor qualidade.

01 - The game gets old
02 - I learned the hard way
03 - Better things to do
04 - Give it back
05 - Money
06 - The reason
07 - Window Shopping
08 - She ain't a child no more
09 - I'll still be true
10 - Without a heart
11 - If you call
12 - Mama don't like my man

quarta-feira, 27 de julho de 2011

2008 - Dani Gurgel - Nosso


Semana passada, durante breve temporada em Sampa, tive a sorte de assistir ao show de Dani Gurgel. Confesso que não conhecia o trabalho da cantora. Logo de cara chamou-me atenção a formação da banda: voz, teclado e contra-baixo acústico.
A suave e firme voz de Dani somada a interessantes composições que narram fatos do cotidiano, por diversas vezes remeteram a momentos de minha vida e rapidamente cativaram-me.
O disco "Nosso" tem forte orientação jazzística norteado pela música popular brasileira e conta com 11 canções de 15 compositores (a maioria jovens paulistanos com pouco mais de 20 anos). Destaque para "Neneca", doce homenagem aos domingos em família na casa da avó, sempre acompanhados por almoço, tios e criançada reunidos, estripulias infantis, pudim aos montes, torcida por mais uma vitória do Ayrton Senna e deleite da Neneca, que também poderia chamar-se Odete.
Dani Gurgel, além de cantora e compositora, é fotógrafa e empreendedora. Ela tem um projeto chamado Música de Graça (vale conferida) em que músicos de diferentes vertentes da nova geração disponibilizam versões inéditas para download gratuito. Sugiro também visita ao site da cantora para baixar outras músicas por este link, basta cadastrar o email.

01 - Festa de santo
02 - Essa não...
03 - Samba do jazz
04 - Da pá virada
05 - Sem morada
06 - Laço na lua
07 - Três tristes trópicos
08 - Neneca
09 - Santuário do Pau de Aroeira
10 - Tambor guia
11 - Dá licença

2000 - Frank Jorge - Carteira Nacional de Apaixonado


Carteira Nacional de Apaixonado é o disco de estréia da carreira solo de Frank Jorge. Antes disso, ele foi baixista e guitarrista da banda gaúcha Graforréia Xilarmônica e também integrou os grupos Os Cascavelletes e Cowboys Espirituais. Neste álbum, Jorge envereda-se pela produção independente e faz um rock'n'roll suingado e irreverente. As letras são por diversas vezes irônicas, sarcásticas e um tanto piadísticas ("Serei Mais Feliz (Vou Largar a Jovem Guarda)" ilustra bem isso). Em outros momentos, como bem sugere o disco, surgem versos com tons mais luminosos e apaixonados, como em Sensores Unilaterais e Esperando a Saudade.
Já na instrumentação, Frank abusa de tecladinhos, sintetizadores e guitarras que dão tom de rock retrô que flerta com o brega. Essa ausência de "compromisso" com fórmulas pré-estabelecidas sobre como tocar e arranjar músicas de rock embute charme e diferencia o trabalho de Jorge.

01 - Gi.B.I.
02 - Serei Mais Feliz (Vou Largar A Jovem Guarda)
03 - Sensores Unilaterais
04 - Esperando A Saudade
05 - Nunca Diga
06 - Prendedor
07 - Bela
08 - Cabelos Cor de Jambo
09 - Não Recebo Em Dólar
10 - Homem de Neanderthal
11 - Saudade de Você
12 - Tá Na Boa
13 - Bounce

terça-feira, 26 de julho de 2011

1992 - Hermeto Paschoal - Festa dos Deuses


Hoje faço uma confissão aos estimados leitores: já cometi a falta de juízo de falar mal do trabalho de Hermeto Paschoal. Não sei explicar de onde vinha tanta implicância com tão pouco fundamento. Falado isso, foquemos no disco.
Festa dos Deuses, como bem sugere o título, é disco com melodias animadas e festivas que também conta com ricos arranjos em que entram vocais, sax, flauta, baixo, piano, bateria, percussão, cantos de pássaros etc. Grandes músicos como Itiberê Zwarg (baixo) e Carlos Malta (sax e flauta) acrescentam brilhantismo ao trabalho.
Destaque para as belas e cuidadosas texturas musicais que Hermeto cerze ao longo do álbum. O cara brinca com elementos percussivos com tal maestria que por vezes os instrumentos fazem-nos escutar água cair, em outras, discursos transformam-se em melodias (e vice-versa) e reverberam-se assim talento e genialidade de Paschoal.

01 - O galo do Airan
02 - Rainha da pedra azul
03 - Viajando pelo Brasil
04 - O farol que nos guia
05 - Pensamento positivo
06 - Peneirando água
07 - Canção no paiol em Curitiba
08 - Aula de natação
09 - Três coisas
10 - Irmãos latinos
11 - Depois do baile
12 - Quando as aves se encontram, nasce o som

sexta-feira, 15 de julho de 2011

1989 - Caetano Veloso - Sem Lenço, Sem Documento


Não sou muito fã de coletâneas, mas gosto desta pelo fato de ser um belo passeio pela carreira do Caetano e também por ter sido através deste disco que comecei a conhecer poesia e música deste que é um dos mais belos compositores da música popular brasileira.

01 - Alegria, Alegria
02 - Soy Loco Por Ti, América
03 - Tropicália
04 - Superbacana
05 - Atrás Do Trio Elétrico
06 - Lua de São Jorge
07 - Shy Moon
08 - Queixa
09 - Sampa
10 - Podres Poderes
11 - Você é Linda
12 - O Leãozinho
13 - Odara
14 - Qualquer Coisa
15 - Eclipse Oculto
16 - Trilhos Urbanos
17 - Trem das Cores
18 - Outras Palavras
19 - Beleza Pura

quarta-feira, 13 de julho de 2011

2009 - Devendra Banhart - What Will We Be


Hoje é o dia em que convencionou-se como aniversário do rock'n'roll. Muitos perguntam por onde anda e para onde ele vai, alguns acham que ele acabou, mas não sei, acho que está apenas adaptando-se aos novos tempos.
Para comemorar a data, posto um dos discos que mais gosto de ouvir deste que é um legítimo representante do novo movimento dentro do rock. O Devendra normalmente grava discos cheio de referências e transita por diferentes linhas do rock. Aqui a música não é marcada pelos fortes riffs de guitarra nem por melódicas linhas de baixo. O cara mescla rock com outros estilos como jazz, blues, pop, ritmos latinos e indianos.
O que não falta é motivo para eu gostar deste disco, posso citar a beleza das instrumentações, o fato de ele ser extremamente ensolarado e recheado de baladinhas românticas, animadas e/ou carinhosas como "Baby" (dá vontade de ter uma namorada e ficar o tempo inteiro junto!), "Brindo" (bela celebração ao amor), "Angelika" e "Can't Help But Smailing". Os outros discos do Devendra que conheço têm pegada mais psicodélica ou melancólica, então aqui eles provam que são capazes de fazer trabalhos com diferentes estilos sem ficar presos a fórmulas pré-estabelecidas, coisa rara atualmente. Outro ponto que me agrada é o título. Acho que ele acertou em cheio para a proposta de um disco de tom mais romântico, pois a pergunta é simples e profunda: "o que será de nós?" (em tradução livre).

01 - Can't Help But Smiling
02 - Angelika
03 - Baby
04 - Goin' Back To The Place
05 - First Song For B
06 - Last Song For B
07 - Chin Chin & Muck Muck
08 - 16th & Valencia, Roxy Music
09 - Rats
10 - Maria Leonza
11 - Brindo
12 - Meet Me At The Lookout
13 - Wiliamdzi
14 - Foolin'


PS: Continuo tendo dificuldades com o MegaUpload, por isso hoje aproveitei um bom link que encontrei na internet

sexta-feira, 8 de julho de 2011

1984 - Zizi Possi - Dê Um Rolê


Dia desses estava a passear por blogs de música e encontrei este disco que para mim é repleto de recordações (acho que este era um dos preferidos de minha mãe, impossível olhar pra esta capa e não pensar em tempo não tão distante - ao menos de minha memória afetiva - de música alta e casa cheia). A curiosidade em ouvir álbum que embalou minha infância e descobertas musicais foi imensa e imediatamente fui baixá-lo.
A faixa de abertura já entrou como furacão e misturou lembranças, impressões e invenções do que sou, gosto e admiro. "Dê Um Rolê" é das músicas dos Novos Baianos mais marcantes para mim, a forma torta, rasgada e autêntica de exprimir maneira particular de amar é para mim quase autobiográfica. Em meio a toda textura pop oitentista ainda há resquícios do rock'n'roll desesperado dos anos setenta em algumas canções. Arrisco dizer que o excesso de teclados (as vezes um tanto cafonas no meio do LP) nos arranjos do disco talvez seja responsável por meu inexplicável encanto com teclados, pianos, pianos holz e afins. Fato que muitas palavras e melodias ficaram registradas em nosso inconsciente e aqui não seria diferente.
Destaque para a interpretação intensa, autêntica, sedutora e firme em "Lábios", que considero o ponto alto deste trabalho. Teria isso a ver com o momento que ela vivia?
Para quem quiser ler um texto que explica (bem) melhor o disco e seu contexto, recomendo este texto do Sidney Rezende.

01 - Dê Um Rolê
02 - Lábios
03 - Depois Me Diz
04 - Papel Marché
05 - Pássaro Sem Ninho
06 - Cigana Nuvem
07 - Febril
08 - Luiza
09 - Nobreza
10 - Brilho Louco

1965 - Conjunto a Voz do Morro - Roda de Samba


O "Conjunto a Voz do Morro" foi uma idéia do Zé Ketti para juntar amigos sambistas que ainda não tinham gravado seus sambas de maneira profissional. Esse projeto quase independente contou com participação de notáveis sambistas, dentre eles estão Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Zé Ketti e Nelson Sargento. Este disco conta também com Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescar do Salgueiro.
Vale uma conferida neste interessante álbum que conta com os primeiros registros de algumas canções que viraram obrigatórias em qualquer roda de samba de qualidade!

01 - Peço Licença
02 - Intriga
03 - Mascarada
04 - Coração Vulgar
05 - Conversa de Malandro
06 - Pecadora
07 - Vai Saudade
08 - Jurar com Lágrimas
09 - Maria
10 - Coração de Ouro
11 - Não Sou Feliz
12 - Injúria
13 - Sonho Triste
14 - Meu Viver


PS: pessoal, a ausência não foi proposital, estava enfrentando problemas técnicos!